Frases filosóficas de grandes pensadores e seus significados

Igor Alves
Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Apresentamos a seguir um apanhado de frases filosóficas (também chamadas de máximas ou aforismos) de quatorze grandes pensadores ocidentais de diversas épocas, da Antiguidade Clássica à Contemporaneidade.

Na sequência de cada frase, adicionamos também uma breve explicação sobre os seus significados.

1. Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.)

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Heráclito, proeminente filósofo pré-socrático, defendia que a realidade estaria em permanente transformação. Nada seria constante, pois tudo é passageiro, tudo flui (panta rhei), muda.

O princípio heraclitiano da transitoriedade influenciou diversos pensadores e artistas ao longo da história. A seguir, apresentamos a íntegra deste seu famoso aforismo:

Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.

Heráclito

2. Protágoras de Abdera (490 – 415 a.C.)

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Protágoras foi um filósofo sofista da Grécia Antiga que conquistou notoriedade com essa frase emblemática.

A máxima expressa o relativismo característico dos sofistas: para eles, não existiria uma verdade absoluta, mas sim diferentes percepções subjetivas e particulares de verdade. Ou seja, o que é verdade para uma pessoa não é, necessariamente, para outra.

Essa ideia fica ainda mais evidente quando observamos a frase em sua totalidade: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."

O relativismo sofista foi alvo da crítica de Sócrates e seus discípulos, que o consideravam um artifício retórico que esses pensadores utilizavam em benefício próprio.

Os socráticos defendiam a existência da verdade absoluta e de valores universais.

3. Sócrates (470 – 399 a.C.)

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A famosa frase do filósofo Sócrates, também conhecida como paradoxo socrático, evidencia a limitação da condição, incapaz de compreender a totalidade do conhecimento.

Para o grande pensador grego, a sabedoria humana residiria na consciência de suas próprias limitações, da própria ignorância.

4. Platão (427 – 347 a.C.)

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Nesta frase, o filósofo Platão reflete sobre a diferença entre os humanos e os demais animais, em especial sobre os jovens desses grupos.

Evidencia-se nesta reflexão o caráter insubordinado, rebelde e questionador próprios da juventude humana, desde sempre avessa à autoridade e, por conseguinte, à "domesticação".

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Nesta outra frase, o discípulo de Sócrates afirma que, apesar da infelicidade de sofrer uma injustiça, ser injustiçado é melhor do que praticar uma injustiça.

Em outras palavras, aquele que comete uma injustiça, além de sofrer as consequências do seu ato, terá de carregar consigo a consciência do mal praticado.

5. Aristóteles (384 – 322 a.C.)

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Aristóteles destaca, neste aforismo, aquilo que considera fundamental para atingir a sabedoria: a dúvida.

A certeza axiomática, indiscutível, então, seria oposta à sabedoria. É necessário questionar, inquirir, contraditar ideias estabelecidas para se obter sabedoria.

6. Santo Agostinho (354 – 430)

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"Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência". Para Santo Agostinho, filósofo responsável por lançar as bases do catolicismo na Idade Média, é preciso saber esperar para alcançar o conhecimento.

O aprendizado, como sabemos, nunca é instantâneo, imediato. É um processo lento, que demanda tempo, e paciência. Logo, sem paciência, não se aprende; e sem conhecimento, não há sabedoria.

7. René Descartes (1596 – 1650)

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"Penso, logo existo" (cogito, ergo sum) é uma frase famosa do filósofo francês René Descartes. Para ele, a dúvida indica a existência do pensamento, e a existência do pensamento, por seu turno, revela a existência do ser humano.

Para o pensador francês, ao se duvidar de tudo, é necessário não se deixar iludir pelas limitações dos sentidos. Para solucionar esse problema, criou um método de compreensão da realidade, conhecido como método cartesiano, que serviu de base para o desenvolvimento científico posterior.

8. Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)

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A máxima apresenta uma síntese do pensamento de Jean-Jacques Rousseau, que considerava o processo de socialização nocivo à humanidade.

Para o filósofo francês, antes do advento da sociedade, o homem "primitivo" (le bon sauvage) vivia feliz, retirando o sustento da natureza e com ela vivendo em equilíbrio, reunindo-se com seus semelhantes apenas em casos de necessidade.

Com a sociedade surgiu o conceito de propriedade privada, e os homens começaram a subjugar seus pares, alterando o equilíbrio da relação com a natureza e, consequentemente, "depravando" a humanidade.

O conceito do "bom selvagem", a idealização da natureza e a crítica à sociedade propostas por Rousseau influenciaram profundamente o Romantismo, movimento artístico do início do século XIX.

9. Immanuel Kant (1724 – 1804)

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Immanuel Kant defendia que a moral deve basear-se na razão pura, isto é, não deve ser condicionada à subjetividade humana.

Para o filósofo alemão, existiria um parâmetro ético universal, categórico, fundamentado na razão. A moralidade, portanto, não deveria ser particular, baseada em "achismos".

Neste sentido, os atos humanos deveriam ser regidos pelo dever racional, e não pela necessidade subjetiva de recompensa.

10. Artur Schopenhauer (1788 – 1860)

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Schopenhauer, em vários de seus textos, elogia a solidão. Segundo o filósofo alemão, seria um pré-requisito para se tornar uma pessoa extraordinária, um "espírito excepcional".

O estar só, a comunicação consigo mesmo, seria, então, uma espécie de autoaprimoramento e, simultaneamente, um exercício de autoconsciência. Em outro aforismo, Shopenhauer afirma:

Apenas quando se está só é que se está livre […] Cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.

Shopenhauer

11. Karl Marx (1818 – 1883)

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O pensamento de Karl Marx era materialista, portanto, negava a existência de tudo o que não é concreto, material. Em resumo, não acreditava em Deus e desprezava as religiões.

Para o filósofo alemão, a função da religião seria amenizar o sofrimento dos trabalhadores e conformá-los com sua condição de explorados, com fantasiosas promessas de recompensa no pós-morte.

A religião, portanto, seria um instrumento de alienação dos desprivilegiados, favorecendo os donos dos meios de produção na luta de classes.

12. Friedrich Nietzsche (1844 – 1900)

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Nesta máxima, Nietzsche recorre à metáfora do "abismo" para se referir à autopercepção, ou seja, aquilo que percebemos de nós mesmos. Uma conduta, parafraseando o célebre filósofo, "humana, demasiadamente humana".

Por "abismo" podemos compreender os nossos "demônios interiores": angústias, frustrações, medos, fraquezas, etc.

Quando nos debruçamos sobre esses "demônios", quando "olhamos para o abismo durante muito tempo", é comum nos enlaçarmos a eles, num processo nada saudável de identificação com as nossas mazelas subjetivas. É quando o "abismo olha para dentro de ti".

13. Jean-Paul Sartre (1905 – 1980)

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Ao lado de Kierkegaard e Camus, Sartre foi um dos expoentes da corrente filosófica conhecida por existencialismo.

Para essa corrente, a existência dos homens precede a sua essência. Neste sentido, nossas vidas seriam o resultado das nossas escolhas. Escolhas essas que requerem liberdade.

Estaríamos, portanto, "condenados a sermos livres". O filósofo francês defendia a total liberdade para podermos decidir o que fazer de nossas vidas.

14. Michel Foucault (1926 – 1984)

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Este pensamento do filósofo Michel Foucault dialoga com o aforismo de Nietzsche visto anteriormente. Ambos tratam dos nossos "monstros secretos", mas o pensador francês vai mais além, ao sugerir uma forma de lidarmos com nossa "insanidade oculta". Acompanhe o trecho na íntegra:

Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. Não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la.

Foucault

Como podemos perceber, Foucault propõe que enfrentemos, sem medo, nossos "monstros". Devemos, então, vencê-los e, com inteligência, usá-los a nosso favor.

Bibliografia:

  • WARBURTON, Nigel. Uma breve história da filosofia. São Paulo: LPM, 2019.
  • VALENTE, Décio. Seleta filosófica de pensamentos e reflexões. Lisboa: Difusão cultural, 1987.

Veja também:

Igor Alves
Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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