Guerra dos Farrapos

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O que foi a Guerra dos Farrapos:

A Guerra dos Farrapos, também chamada de Revolução Farroupilha, foi uma guerra civil iniciada em 20 de setembro de 1835 e que opôs a elite rural gaúcha ao governo imperial. Foi a guerra civil mais duradoura da história do Brasil.

A principal razão da revolta foram os pesados impostos cobrados pelo governo, que tornavam alguns produtos gaúchos, sobretudo o charque (carne seca), pouco competitivos no mercado interno.

Liderada pelo militar Bento Gonçalves (1788-1847), a revolta iniciou-se com a invasão e a conquista de Porto Alegre, então capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Foram quase 10 anos de conflitos e tentativas de negociação, até que no dia 1º de março de 1845 foi assinado o Tratado de Ponche Verde, que selou a paz entre os farroupilhas e o governo central. O Rio Grande do Sul foi definitivamente integrado ao território nacional, e algumas reivindicações dos revoltosos foram atendidas, dentre as quais a maior taxação do charque estrangeiro.

Guerra dos Farrapos em ordem cronológica

Início do conflito (20 de setembro de 1835)

Havia um grande descontentamento da elite estancieira gaúcha com o governo nacional. Dentre as causas do conflito, destacam-se as seguintes:

  • Altos impostos sobre mercadorias produzidas no Rio Grande do Sul, sobretudo o charque, que era o principal produto da região.
  • Baixa tributação do charque estrangeiro, que fazia com que o produto de países como Argentina e Uruguai levasse vantagem no mercado brasileiro.
  • Insatisfação com a falta de autonomia da província em relação ao governo central. Os farroupilhas não queriam que os presidentes da província fossem nomeados pelo governo.
  • Influência das ideias liberais.

Como as reivindicações dos estancieiros gaúchos não foram atendidas, deflagrou-se a revolta em 20 de setembro de 1835. A força militar dos farroupilhas era formada por habitantes da província (entre os quais peões e negros escravizados) arregimentados pelos chefes milicianos.

O conflito teve início com a tomada de Porto Alegre e a destituição do presidente da província. Em julho do ano seguinte, as tropas imperiais recuperaram a cidade.

A primeira grande batalha (10 de setembro de 1836)

A vitória na Batalha do Seival foi um dos maiores trunfos dos farroupilhas. O combate ocorreu no município de Bagé e representou uma reação importante dos rio-grandenses, que haviam amargado algumas derrotas, dentre as quais a perda de Porto Alegre para o Império.

A vitória em Seival, liderada pelo general Antônio Netto (1803-1866), abriu as portas para a proclamação da República Rio-Grandense.

Proclamação da República Rio-Grandense (11 de setembro de 1836)

Após a vitória na Batalha do Seival, os revoltosos farroupilhas, liderados por Netto, proclamaram a República Rio-Grandense, também chamada de República de Piratini, já que tinha como sede a vila de Piratini. Até 1845, houve mais duas capitais: Caçapava (1839-1840) e Alegrete (1840-1845).

Com a criação de um estado-nação, a revolta farroupilha ganha contornos separatistas. O primeiro presidente da República Rio-Grandense foi Bento Gonçalves, que no entanto acabou sendo preso na Batalha do Fanfa, em outubro de 1836. Quem assumiu a presidência interina da república foi José Gomes Jardim (1773-1854).

Bento Gonçalves: encontro com Garibaldi e fuga da prisão (1837)

Após a Batalha do Fanfa, o líder farroupilha Bento Gonçalves foi levado ao Rio de Janeiro, onde esteve preso durante vários meses.

Foi na prisão que conheceu o italiano Giuseppe Garibaldi (1807-1882), que se encontrava exilado no Brasil. Garibaldi havia sido condenado à morte na Itália por participar de uma conspiração de caráter republicano.

Após uma tentativa de fuga, Bento Gonçalves foi enviado a Salvador. Lá, no dia 10 de setembro de 1837, ele consegue fugir da prisão. De volta ao Rio Grande do Sul, finalmente conseguiu assumir a presidência da recém-fundada república.

Fundação da República Juliana (24 de julho de 1839)

Em 1839, os farroupilhas conseguem estender a revolta para além das fronteiras gaúchas. Sob a liderança de Garibaldi e do general David Canabarro (1796-1867), as tropas republicanas tomam Laguna, em Santa Catarina, e proclamam a República Juliana (nome que faz referência ao mês em que o evento ocorreu).

O movimento não conseguiu estender seus domínios a outros pontos da província de Santa Catarina, em especial a ilha do Desterro (atual Florianópolis). Sem o apoio da população local e sofrendo com o bloqueio imposto pelo Império ao porto de Laguna, o movimento foi derrotado em novembro de 1839. A derrota em Laguna marcou o início do declínio farroupilha.

Duque de Caxias é encarregado de pôr fim à guerra (1842)

Em 1840, D. Pedro II assume a chefia do Império. É concedida anistia aos revoltosos do Período Regencial (1831-1840), mas a maioria dos chefes farroupilhas não aceita a rendição.

Em 1842, Luís Alves de Lima e Silva, mais tarde tornado Duque de Caxias (1803-1880), é nomeado para o posto de comandante das armas do Rio Grande do Sul com a clara missão de debelar a revolta. Só em 1843, houve 19 combates, a maioria dos quais com desfecho positivo para o exército imperial.

O Massacre de Porongos (14 de novembro de 1844)

As lutas ainda se estendem até 1845, com sucessivas derrotas farroupilhas. Um dos episódios mais tristes de toda a guerra foi o Massacre de Porongos, uma emboscada protagonizada por soldados imperiais que resultou na morte de centenas de soldados negros.

Houve grande participação de homens negros escravizados na Guerra dos Farrapos. As lideranças farroupilhas cooptavam escravizados com a promessa de liberdade em caso de vitória.

Ainda há muita polêmica sobre o que teria acontecido em Porongos. Uma das versões garante que houve traição do general David Canabarro, interessado em facilitar as negociações com o governo imperial.

O fim da guerra: Tratado de Ponche Verde (1 de março de 1845)

No dia 1 de março de 1845, criam-se condições para a assinatura de um acordo de paz, que ficou conhecido como Tratado de Ponche Verde.

Embora nem todas as cláusulas do acordo tenham sido cumpridas, os proprietários rio-grandenses conseguiram duas coisas importantes:

  • Maior taxação do charque estrangeiro, o que beneficiou comercialmente os produtores rurais gaúchos.
  • Anistia aos revoltosos e garantia de que eles não seriam processados futuramente.

Porém, a promessa de que a nomeação do presidente da província seria feita pelos próprios gaúchos não foi cumprida. Também não foi cumprida a libertação dos escravizados que lutaram ao lado dos revoltosos. Parte deles foi devolvida aos seus antigos proprietários.

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