Significado de Modernidade Líquida

Juliana Bezerra
Revisão por Juliana Bezerra
Professora de História

O que é Modernidade Líquida:

É o termo cunhado pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman para definir a atual sociedade. Ele analisa e define as relações e comportamentos rápidos e fluidos do mundo contemporâneo, impactados pelo capitalismo globalizado.

Modernidade líquida e pós-modernidade

Muito se questiona se o termo modernidade líquida advém do mesmo significado de pós-modernidade. Porém, Bauman abandona a terminologia pós-modernidade, que, segundo ele, deixou de ser uma compreensão e passou a ser uma grande corrente de pensamento, com autores se autointitulando pós-modernos.

O autor trabalha com a ideia de que a sociedade não vive uma pós-modernidade. A novas formações sociais e institucionais originam uma modernidade líquida, que superou a modernidade sólida da primeira metade do século XX. O que, como maior consequência, deixou para trás o conceito racional e burocrático de comportamentos e instituições.

O homem dessa modernidade líquida é considerado fluido, com grande flexibilidade de adaptação e diversas mudanças comportamentais, intelectuais e sentimentais, acompanhando o ritmo de transformação da nova sociedade.

Bauman usa o termo líquido para fazer analogia ao estado da matéria que mais se transforma.

O autor intitula a era moderna como sólida porque os processos, a sociedade e os relacionamentos não se encaixavam perfeitamente em qualquer ambiente, sofrendo dificuldade de adaptação ao novo.

Veja também o significado de Pós-modernidade.

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Zygmunt Bauman - (1925 - 2017)

Os 5 pontos principais da modernidade líquida segundo Bauman:

  • Emancipação: é o fato de as pessoas passarem a serem agentes ativos e questionadores da sociedade e se por um lado tem uma maior busca pela liberdade, do outro há também uma maior responsabilização individual;
  • Individualidade: Bauman acreditava que a identidade tem sido moldada pelo consumo e que o indivíduo tem feito escolhas e agido por si mesmo, sem considerar atributos como cooperação e solidariedade;
  • Tempo-espaço: o autor ressaltou que a tecnologia serve como o agente de fragmentação desse conceito. Segundo ele, o espaço fica maior com máquinas mais velozes e eficientes e cada vez cabem mais coisas no mesmo período de tempo, já que os eventos são simultâneos, o que consequentemente também amplia o espaço. Bauman também chega a tratar da urgência de ir a algum lugar é menor, já que existem espaços virtuais (redes sociais) no qual podemos ir a qualquer local no instante em que quisermos;
  • Emprego: na modernidade líquida o desemprego é estrutural em sociedade prósperas, uma vez que as relações profissionais são instáveis e efémeras. O progresso vem a partir da confiança em si mesmo e no desenvolvimento de estratégias e ações de curto prazo;
  • Comunidade: há um enfraquecimento do conceito de comunidade, uma vez que a sociedade estabelece hoje seus laços em forma de rede, por meio de conexões que são feitas e desfeitas com base em interesses contextuais.

Além disso, vale ressaltar a grande adaptabilidade da sociedade líquida. Portanto, a identidade social é múltipla, não se moldando às etiquetas da religião, nacionalidade e até mesmo a profissão.

A transformação da modernidade sólida em modernidade líquida e suas diferenças

A modernidade sólida se estendeu até parte do século XX e é compreendida por Bauman como um período em que a sociedade vivia em uma noção de comunidade, valorizando a ligação e dentificação entre as pessoas. Toda essa ideia trazia um conceito de durabilidade e uma sensação de segurança.

Ainda neste período, os princípios mudavam em um ritmo lento e totalmente previsível, sendo possível ver nitidamente para onde os processos e os comportamentos seguiam e onde chegariam. Assim, a sociedade moderna tinha a sensação de controle sobre o mundo, seja a tecnologia ou a economia, por exemplo.

As duas características primordiais dessa sociedade sólida são a organização das atividades e das instituições humanas, em paralelo a linha burocrática.

Ou seja, a burocracia permeava as atividades e instituições para fazer a organização, de forma que o raciocínio prático é utilizado para resolver os problemas do dia a dia.

Porém, a instabilidade econômica mundial e a globalização contribuíram para a perda da ideia de controle sobre os processos do mundo.

Todas essas mudanças trouxeram incertezas quanto a capacidade da sociedade se adequar aos novos padrões sociais, que se liquefazem e mudam constantemente.

Nessa passagem do mundo sólido para o líquido, Bauman destaca a grande transição das formas sociais: seja no trabalho, na família, no amor, na amizade ou até mesmo na própria identidade.

Essa transição do sólido para o líquido pressupõe que acontecimentos materializados na modernidade, se radicalizaram no mundo contemporâneo.

Veja também o significado de Revolução Industrial.

As relações líquidas

A modernidade líquida gera instabilidade para tudo ao nosso redor, inclusive para as relações humanas e a vida em conjunto, como a grupos familiares, de amigos, entre outros.

O que Bauman ressalta em sua obra literária, é que as relações perderam a estabilidade e consistência que existia na modernidade sólida, transformando-se em trocas com diferentes fins.

Bauman fez uma análise mais profunda sobre as relações afetivas em sua obra literária "Amor Líquido", onde aborda sobre estruturas das relações na modernidade líquida.

Em uma de suas entrevistas para um meio de comunicação brasileiro, Bauman deu a seguinte resposta ao ser questionado sobre o significado de Amor Líquido:

Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade.

Veja também o significado de:

Juliana Bezerra
Revisão por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.
Stella Sousa
Edição por Stella Sousa
Formada em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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