Tipos de pessoas não binárias: trans, agênero e outras identidades

Juliana Theodoro
Revisão por Juliana Theodoro
Mestra em Ciências da Comunicação

A pessoa não binária é aquela que não se identifica nem com o gênero masculino, nem com o gênero feminino. Sua identidade de gênero não se encaixa 100% dentro do binário de gênero.

Isso significa que a pessoa não binária não se identifica necessariamente como homem ou mulher, podendo assumir um gênero neutro, transitar entre os gêneros ou mesmo mesclá-los (dentre outras possibilidades).

Costuma-se dizer que o não binário é um termo “guarda-chuva”, capaz de abrigar dentro de si uma infinidade de identidades de gênero. O nome genderqueer (ou gênero queer) também é utilizado para nomear toda a multiplicidade de identidades não binárias.

Quantas e quais são as identidades não binárias?

Não existe uma resposta definitiva para essa pergunta. O site Orientando, cuja missão é ensinar as pessoas sobre temas como orientação sexual e identidade de gênero, reúne 300 identidades não binárias. Mas adverte que a lista não está completa, já que outras formas de identificação são possíveis.

Abaixo, listamos algumas identidades não binárias:

  • Agênero: identidade definida pela ausência de gênero.
  • Andrógino (andrógine): identidade caracterizada pela mistura dos gêneros masculino e feminino.
  • Gênero fluido: identidade caracterizada pela mudança periódica de gênero.
  • Mulher não binária (não binárie): identidade da pessoa não binária que, por alguma razão, pode se aproximar do gênero feminino. Ex.: uma pessoa não binária que, em situações em que seu gênero não é aceito, acaba adotando a identidade feminina.
  • Homem não binário (não binárie): identidade da pessoa não binária que, por alguma razão, pode se aproximar do gênero masculino. Ex.: uma pessoa não binária com predileção por elementos tipicamente masculinos, como o vestuário.
  • Neutrois: identidade também chamada de gênero neutro - ou seja, não é nem masculino, nem feminino, nem a mistura dos dois.
  • Demigênero: identidade da pessoa que se identifica apenas parcialmente com determinado gênero. A pessoa pode ser, por exemplo, demimenino ou demimenina.
  • Transfeminina (transfeminine): identidade da pessoa a quem, ao nascer, foi atribuído o gênero masculino, mas se identifica com o gênero feminino.
  • Transmasculino (transmasculine): identidade da pessoa a quem, ao nascer, foi atribuído o gênero feminino, mas se identifica com o gênero masculino.
  • Xenogênero: identidade que abrange vários tipos de gênero que se definem pela associação com seres, sentimentos ou fenômenos, isto é, coisas que não fazem parte do universo binário de gênero. Ex.: pessoas que definem seu próprio gênero com referência a uma cor (gênero-cor).

Veja o infográfico com as identidades, seus símbolos e bandeiras:

Tipos de identidade de gênero não binárias

Existe diferença entre não binário e trans?

A pessoa transgênero é aquela que não se identifica com o gênero (masculino ou feminino) que lhe foi atribuído ao nascer. Assim, pode-se dizer que todas as identidades de gênero divergentes, inclusive as identidades não binárias, são agrupadas dentro da denominação trans. É por isso que muitas pessoas se autodefinem como trans não binárias.

Ao não se identificar 100% com nenhum dos dois gêneros, a pessoa não binária recusa seu gênero de registro, posicionando-se ao lado das mulheres e homens trans no amplo espectro da transgeneridade.

Leia mais sobre o que é ser transgênero e a comunidade LGBTQIA+.

O que a não binaridade tem a ver com orientação sexual?

Não binaridade está no âmbito da identidade de gênero, não da orientação sexual. É importante deixar claro que identidade de gênero e orientação sexual são coisas diferentes.

A identidade de gênero é como a pessoa se identifica. Já a orientação sexual tem a ver com o interesse sexual e afetivo de uma pessoa. Uma pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento é uma pessoa cisgênero (mulher ou homem cis).

Já uma pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi imposto ao nascimento pode ser uma mulher trans, um homem trans ou uma pessoa não binária. Em todos os casos, estamos no campo da identidade de gênero.

A orientação sexual, por outro lado, tem a ver com a atração sexual. Os tipos de orientação sexual mais conhecidos são heterossexual, homossexual, bissexual e pansexual.

Entenda o que significam pansexual e homossexualidade.

Um homem cisgênero que tem interesse por mulheres cis ou trans é heterossexual. Uma mulher transgênero que se relaciona com mulheres cis ou trans é homossexual (ou lésbica). Um homem transgênero que se relaciona com mulheres cis ou trans é heterossexual.

Leia mais sobre o que é identidade de gênero e sobre a diferença entre orientação sexual e identidade de gênero.

O caso dos pronomes: como se dirigir a uma pessoa não binária?

A nossa gramática, tal como aprendemos na escola, reconhece a existência de apenas dois gêneros: o masculino e o feminino. Assim, quando queremos nos referir a um homem, usamos o pronome “ele”. Boa parte dos nomes (substantivos e adjetivos) flexionam em gênero: por isso diferenciamos o “professor” da “professora”, o “aluno” da “aluna”, etc.

Mas se a pessoa não se identifica com nenhum dos dois gêneros, qual pronome devemos usar? Como flexionar os substantivos e adjetivos?

A fim de corrigir essa limitação do idioma, criou-se a linguagem neutra. Essa nova forma de se comunicar institui, por exemplo, o pronome “elu” (em alternativa ao “ele” e ao “ela).

Assim, quando se trata de uma pessoa não binária, a forma mais adequada de nos referirmos a ela é usar a linguagem neutra. Ex.: “Elu vai sair com a gente?”. “Elu” se desdobra em “delu”, “nelu”, “aquelu”, etc. Ex.: "Essa mochila é delu?".

No caso das flexões em gênero, utiliza-se a letra “e” em substituição ao “o” e ao “a” que marcam os gêneros nos finais das palavras. Ex.: “professore”, “alune”, “amigue”, “menine”, etc.

Na dúvida de quais pronomes usar, o melhor a fazer é perguntar à pessoa de que forma ela gostaria de ser tratada.

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Juliana Theodoro
Revisão por Juliana Theodoro
Mestra em Ciências da Comunicação e especialista em Estudos de Mídia e Jornalismo, com ênfase em Estudos de Gênero e Análise do Discurso. É jornalista desde 2016.
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