Saci-Pererê

Equipe da Enciclopédia Significados
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O Saci-Pererê, ou simplesmente Saci, é um dos seres mágicos e lendários mais conhecidos do folclore brasileiro. Costuma ser retratado como um jovem negro de uma perna só, um brincalhão de gorro vermelho, mãos furadas e cachimbo na boca.

Ao longo do século XX, tornou-se personagem popular da cultura brasileira, aparecendo em livros, histórias em quadrinhos, séries e filmes.

Saci-Pererê na floresta em noite de lua-cheia

A Lenda do Saci-Pererê

A lenda do Saci-Pererê possui diversas versões, variando conforme o local e época. A versão mais famosa foi a popularizada pelo escritor Monteiro Lobato no livro O Saci, de 1921.

O criador do Sítio do Picapau Amarelo descreve-o, por intermédio do personagem Tio Barnabé, como um ser pequenino, dotado de poderes mágicos, utilizados para fazer travessuras:

O saci é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte [...] Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. [...] Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.

Filho de uma feiticeira, o Saci nasceu em uma noite de lua cheia. Para se proteger dele, diz a lenda que é preciso jogar uma peneira no chão ou colocar um rosário de sete nós no pescoço: ele é obrigado a parar e desfazer todos os nós.

O Saci pode se transformar em um redemoinho de vento e desaparecer no ar. Segundo a lenda, esses poderes mágicos emanam do seu gorro. Monteiro Lobato indica, inclusive, que aquele que capturasse a carapuça teria poderes sobre o menino endiabrado das matas brasileiras.

Em outras versões da lenda, especialmente as encontradas no Norte do Brasil, o Saci-Pererê apresenta atribuições bastante distintas das já citadas. Estas características se confundem com as de outros seres mágicos e lendários, como o Curupira, a Caipora e a Matita Perê.

Nessas versões, por exemplo, o Saci se transforma em ave noturna, que assombra e desnorteia os viajantes com seu assobio aterrorizante.

Apesar de suas travessuras, o Saci é uma figura muito querida do folclore. Com seu espírito inventivo e traquinas, desperta mais simpatia do que medo. Sua identidade negra o torna um símbolo nacional positivo, contribuindo para diluir o preconceito que, lamentavelmente, ainda não conseguimos eliminar do país.

Origem

"Saci-Pererê" é uma palavra de origem Tupi. "Saci" vem de sa'si, nome de um pássaro, e "pererê", de pererek, cujo significado é "ir aos pulos, saltitando".

Existem diversas versões sobre como surgiu a lenda. Uma das versões diz que o personagem foi criado pelos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da chegada dos portugueses. Outra versão afirma que o Saci-Pererê é uma mistura de elementos da cultura africana, trazidos pelos escravos, e dos costumes europeus.

Uma terceira versão, hoje amplamente aceita, aponta para uma origem indígena do Saci, que com o tempo e a disseminação da lenda pelo território nacional foi se modificando, abarcando elementos tanto de outras culturas originárias, como também da africana e europeia. Neste sentido, a lenda refletiria a heterogeneidade característica da formação do povo brasileiro.

A tese da origem indígena do Saci é reforçada pela presença de lendas semelhantes na cultura de povos originários de países fronteiriços ao Brasil. No Paraguai, Argentina e Uruguai, por exemplo, os guaranis falam de Yasí Tere (ou Yasy-Ateré). Seria uma espécie de anão, que desorienta os viajantes, sequestra crianças e moças e possui uma varinha ou bastão mágicos.

A lenda do Saci, então, teria surgido entre povos originários da região Sul e, a partir do século XIX, espalhou-se para o restante do país. Nessa expansão, teria ganhado outras características, como, por exemplo, o gorro vermelho (influência europeia), a ausência de uma perna e a cor negra (herança africana).

Adaptações da Lenda do Saci

Desde o século XX, o Saci se tornou um personagem famoso e querido da cultura brasileira. Este sucesso muito se deve às adaptações da lenda para diversas mídias contemporâneas, como a literatura, cinema, séries de televisão e histórias em quadrinhos.

Literatura

O primeiro escritor a se debruçar sobre a lenda, como vimos anteriormente, foi Monteiro Lobato, autor do livro O Saci, de 1921. Entretanto, este livro é fruto de um projeto anterior do criador da Emília, realizado em 1917.

Trata-se da pesquisa realizada pelo autor entre os leitores do jornal O Estado de São Paulo intitulada "Mitologia Brasílica — Inquérito sobre o Saci-Pererê". O resultado dessa pesquisa foi publicado em livro (o primeiro de Lobato) no ano seguinte, com o título O Saci-Pererê: resultado de um inquérito.

Cinema

A primeira aparição nas telas do personagem foi em O Saci (1953), filme brasileiro de Rodolfo Nanni e Nelson Pereira dos Santos. Como se percebe pelo título, trata-se de uma adaptação cinematográfica do romance homônimo de Monteiro Lobato.

Séries

O Saci estreia na televisão brasileira em 1977 com a série Sítio do Picapau Amarelo, produzida pela TV Globo em parceria com a TVE e o Ministério da Educação e Cultura. A série é uma adaptação dos romances infantis de Monteiro Lobato. Foi reeditada 2001.

Recentemente, o Saci foi personagem da série Cidade Invisível (2021), dirigida por Carlos Saldanha e produzida pela Netflix. A série apresenta uma trama policialesca envolvendo entidades do folclore brasileiro, como o Saci, Boto-cor-de-rosa, a Cuca, o Curupira e a Iara.

Histórias em quadrinhos

Em 1958, o cartunista Ziraldo produziu a primeira história em quadrinhos sobre o Saci, A Turma do Pererê, publicada originalmente na Revista O Cruzeiro, e posteriormente em diversas publicações.

O Saci também está presente em diversas histórias da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa.

Dia do Saci

O Dia do Saci, comemorado em 31 de outubro, é uma celebração da cultura e do folclore brasileiro, que ocorre na mesma data em que o Halloween é celebrado em diversos países.

Essa data foi criada em 2003 pelo projeto social "Saci no Bosque", realizado pela Universidade de São Paulo (USP), visando homenagear uma das figuras mais populares do folclore brasileiro.

Em 2005, o Dia do Saci foi instituído em São Paulo. Desde então, foi oficializado em diversas cidades e Estados brasileiros.

Durante o Dia do Saci, diversas atividades são realizadas para celebrar a cultura brasileira e o folclore nacional. Além disso, atividades de conscientização ambiental, como plantio de árvores e coleta de lixo.

Essa celebração representa uma alternativa ao Halloween, uma festa que não faz parte da tradição brasileira, mas que vem ganhando popularidade no país nos últimos anos.

Bibliografia:

  • LOBATO, Monteiro. O Saci. São Paulo: Brasiliense, 1994.
  • CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2000.
  • MEGALE, Nilza B. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1999.

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