Violência no Brasil
A violência no Brasil é um fenômeno social complexo, com várias causas e remonta o início da história do país. Trata-se, portanto, de um problema estrutural.
A violência se manifesta em comportamentos agressivos e criminosos, que podem ser direcionadas as pessoas (assaltos, agressões físicas e os homicídios), mas também ao patrimônio (roubos e furtos).
Além dessas manifestações, no Brasil ainda há outros três contextos onde a violência acontece: nas casas das famílias (violência doméstica), no campo (violência rural) e nos conflitos entre grupos criminosos.
O Brasil está entre os países mais violentos do mundo. Os índices de mortes violentas intencionais são comparáveis a de países em guerra. Os homens jovens e negros são as maiores vítimas (fatais) de violência no país.
Índices da violência no Brasil
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, o Brasil registrou 47.452 mortes violentas intencionais, incluindo homicídios dolosos, feminicídios, policiais mortos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais.
Esse valor mostra uma redução de cerca de 2% quando comparado com 2021. Porém, o relatório destaca que o país continua longe de se tornar um lugar seguro, tendo uma taxa de mortalidade alta, de aproximadamente 23 por 100 mil habitantes.
Os homens negros são as principais vítimas de morte violentas no Brasil. Os estados que registraram mais mortes foram o Amapá, Bahia e Amazonas.
Sobre a violência nas intervenções policias, o país registra a média de 3,2 mortes decorrentes de intervenção policial por 100 mil habitantes.
Os estados que mais têm mortes decorrentes da atividade policial são Amapá, Bahia e Rio de Janeiro. Dessas mortes, aproximadamente 83% das vítimas sãos negras e 45% têm entre 18 e 24 anos.
Quanto as mortes de policiais, em 2022, 161 foram assinados. A cada 10 mortes, 7 acontecem durante a folga.
A pesquisa aponta que os policiais brasileiros são treinados para agir 24 horas, mesmo quando não estão trabalhando e estão mais vulneráveis, sem apoio do batalhão e dos colegas.
Esse estudo ainda destaca que 98 policiais morreram por suicídio no mesmo ano, o que revela uma negligência com a saúde mental por parte das corporações.
No ano de 2022, os feminicídios aumentaram 6%, com um total 1.437 mulheres assassinadas por violência de gênero. A violência doméstica também cresceu, totalizando 245.713 ocorrências.
A violência sexual também aumentou, com 74.930 vítimas de estupro e estupro de vulnerável. Esse é o maior número registrado na história do Brasil.
Violência urbana no Brasil
As taxas de violência no Brasil variam de estado para a estado, mas, na generalidade, são mais acentuadas nas áreas urbanas.
Acontecem por meio de furtos, assaltos e homicídios, sendo as áreas periféricas e vulneráveis as mais expostas.
Nessas regiões, a violência está associada a desigualdade social, a falta de acesso à educação e saúde de qualidade, desemprego e também por influência do tráfico de drogas.
As organizações criminosas, principalmente as que estão ligadas ao tráfico, desempenham um papel significativo na dinâmica da violência urbana no Brasil.
Comandadas por homens poderosos, elas se infiltram nas áreas onde o estado está ausente, nos presídios e na política, passando a controlar o funcionamento de uma região e das pessoas que ali vivem.
O crime organizado tem uma rede de "funcionários", que realizam crimes diversos, para a manutenção do poder e o aumento do lucro da organização.
A existência e as atividades desses tipos de grupos nas criam um cenário de insegurança, medo e ameça constante à população.
A violência policial é outra face do problema da violência urbana no Brasil. Em um ambiente de trabalho extremamente inseguro e tenso, os policiais muitas vezes são mal treinados (tanto taticamente, quanto emocionalmente) e cometem abusos e agressões contra a própria população.
A polícia brasileira é uma das que mais mata no mundo e também está entre as que mais morre.
A violência urbana no Brasil vitimiza principalmente os jovens negros periféricos, que pertencem às áreas controladas pelo crime organizado.
Entenda quais são os tipos de violência.
Causas da violência no Brasil
As causas da violência no Brasil são diversas e têm em suas raízes problemas sociais complexos. Historicamente, o Brasil é um país violento, a formação do povo brasileiro aconteceu sob a circunstância de violência extrema.
Quando se iniciou a colonização portuguesa em 1500, a povos originários foram submetidos a vários tipos de violência: física, sexual e tentativas de escravização.
Estas resultaram em milhões de mortos.
Além desses tipos de violência, também existiram violências simbólicas, como:
- apagamento das culturas indígenas;
- demonização de suas crenças;
- a obrigação da adoção de nomes portugueses;
- o catolicismo obrigatório.
Com vinda forçada de milhões de africanos para o Brasil, para serem escravizados, o projeto de violência ganhou mais força.
As pessoas negras também tiveram suas crenças demonizadas, suas culturas e individualidades apagadas e sua condição de humanos negadas, sendo transformadas em objetos.
O trabalho forçado, a violência física e sexual eram rotineiras. Portanto, a formação do povo brasileiro ocorreu em uma dinâmica de violência e morte do mais vulnerável.
Essa dinâmica perdura até hoje, como resultado dessa formação problemática, que assumiu outros contornos com o passar do tempo.
Na generalidade, os mais vulneráveis e pobres continuam sendo as principais vítimas de violência.
Problemas como a pobreza, a concentração de renda, a desigualdade social, o racismo, a misoginia, a falta de acesso aos direitos básicos e a corrupção levam ao fenômeno da violência no Brasil.
Como o estado brasileiro não consegue atender toda a população dignamente e nem criar soluções para os problemas estruturais, abre-se espaço para a violência e para que grupos criminosos explorem esses problemas.
O tráfico de drogas tem sido a principal atividade do crime organizado brasileiro, e gera bilhões de reais todos os anos.
Os criminosos utilizam das pessoas e dos locais em que o Estado é ineficiente para exercer suas atividades.
Esse contexto cria um ambiente hostil para a população, especialmente quando somados as políticas ineficientes de combate as drogas, que acabam ampliando o cenário de violência.
No contexto rural, as causas da violência no Brasil estão principalmente relacionadas com conflitos por terra.
São resultados da concentração de renda, da corrupção, da exploração ambiental e da falta de demarcação das terras indígenas.
Saiba também o que é misoginia e racismo.
Consequências da violência no Brasil
Os altos índices de violência no Brasil afetam toda a população de diversas formas, seja por ser vítima de um crime, perder um familiar, experienciar situações traumáticas ou viver sob estado de tensão.
A violência também custa caro, pois há recursos públicos destinados exclusivamente ao combate ao crime, investigação policial e aos serviços de saúde. As principais consequências da violência no Brasil são:
- Perda de vidas humanas - é a pior das consequências da violência no país, com milhares de mortos todos os anos, vítimas de latrocínios, homicídios e feminicídios.
- Impacto na saúde mental - viver em um contexto violento provoca danos a saúde mental, gerando problemas como estresse pós-traumático, ansiedade e depressão.
- Impacto nos gastos de saúde pública - a violência sobrecarrega o Sistema Único de Saúde (SUS) com os tratamentos das vítimas, o que aumenta os custos e reduz a capacidade de atendimento a outros problemas de saúde.
- Deslocamentos forçados - devido ao crescimento dos índices de violência em uma região ou cidade, pessoas são obrigadas a migrar em busca de lugares mais seguros.
- Prejuízos econômicos - a violência tem impacto negativo na economia do país, pois desestimula investimentos, afeta o turismo, aumenta os custos de segurança e afeta comerciantes e serviços.
- Desconfiança nas instituições - a violência muitas vezes está associada a um cenário de corrupção e clandestinidade, que mina a credibilidade nas instituições e acaba por criar a sensação de que o poder público não tem capacidade para lidar com o problema.
- Estigmatização das comunidades periféricas - as comunidades periféricas são as que mais sofrem com a violência e são colocadas como as culpadas pelo problema, provocando preconceito e prejudicando o desenvolvimento social e econômico da região.
- Ciclo de violência - o combate violento à violência, sem solucionar os problemas estruturais, nem punir devidamente os verdadeiros culpados, acaba por gerar mais violência, em um ciclo.
