O que é Barroco

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Barroco é um estilo artístico surgido no século XVI e que teve seu auge no século XVII. Começou nas artes plásticas e depois se estendeu à literatura e demais expressões artísticas, como a música e o teatro.

O movimento artístico sucede o Renascimento. Para a crítica e historiografia da arte tradicional, o Barroco seria uma espécie de "pérola irregular", um classicismo imperfeito, grotesco.

Contexto histórico

Diferentemente da abordagem tradicionalista, a crítica mais atual considera o Barroco como uma constante artística universal, típica de períodos de grandes conflitos espirituais, caracterizada pela tensão, irregularidade, distorção e exagero. Oposta, portanto, à sobriedade e à disciplina clássicas.

No século XVI, a Igreja Católica sofreu um grande golpe com a Reforma Protestante promovida por Martinho Lutero. A Reforma, iniciada na Alemanha, recebeu apoio de grande parte da burguesia mercantil e de setores importantes da nobreza, e rapidamente se espalhou pela Europa. Em pouco tempo, metade da cristandade havia se convertido ao protestantismo.

A reação católica tem início com a realização do Concílio de Trento (1545 – 1563). Foi onde se definiram as bases da Contrarreforma, movimento de resposta da Igreja de Roma à Reforma protestante.

Para frear o avanço do protestantismo, o Concílio instituiu o retorno do Tribunal do Santo Ofício (instrumento jurídico-religioso medieval também chamado de Santa Inquisição). Livros reprovados pela Inquisição foram proibidos, e as pessoas que questionaram os dogmas e a autoridade católicas, rigorosamente punidas. Foi o caso de Copérnico, Galileu Galilei e Giordano Bruno, entre muitos outros.

A Companhia de Jesus enviou seus missionários para os novos territórios conquistados nas Grandes Navegações. Na América, África e Ásia, os jesuítas catequizaram os povos nativos, no intuito de retomar o crescimento do catolicismo.

A época da Contrarreforma, deste modo, foi caracterizada por um intenso dualismo. De um lado, os avanços promovidos pelo humanismo clássico, o Renascimento, como o racionalismo e a valorização do prazer ("carpe diem"). De outro, a opressão religiosa, com a renúncia à liberdade de pensamento e aos prazeres carnais.

O Barroco, então, como a "arte da contrarreforma", foi profundamente marcado por este conflito entre a herança do antropocentrismo renascentista e a retomada do teocentrismo medieval.

Características do Barroco

  • O dualismo, o culto do contraste, das contradições. As obras barrocas mostram uma constante e angustiante luta entre forças opostas: o bem e o mal, Deus e o Diabo, luz e trevas, etc.
  • Recorrência de temáticas religiosas.
  • Contraste entre luz e sombra, conferindo intensidade dramática e profundidade na arquitetura e, em especial, na pintura (chiaroscuro).
  • Rebuscamento da forma, virtuosismo, ornamentação exagerada. Na literatura, essa característica é também designada como cultismo ou gongorismo, e se manifesta a partir da adoção de um vocabulário culto, erudito, da inversão da ordem das frases e do uso indiscriminado de figuras de linguagem (metáforas, antíteses, hipérboles, etc.).
  • Conceptismo: jogo de ideias, associações inesperadas e argumentações sutis, utilizando silogismos, sofismas e paradoxos. É uma característica muito comum à literatura barroca, principalmente à prosa.

Barroco nas artes plásticas

As obras barrocas geralmente ilustram passagens da Bíblia, da história da humanidade ou cenas mitológicas. Era comum os artistas barrocos estamparem seus trabalhos em paredes e tetos de igrejas ou palácios. O cotidiano da burguesia e da nobreza, classes das quais provinham os mecenas (patrocinadores da arte) e a maioria dos artistas, também era tema recorrente nas pinturas.

Abusando do virtuosismo e do exagero ornamental, os artistas barrocos buscavam surpreender os observadores com a assombrosa engenhosidade com a qual compunham suas obras. Daí a utilização de inúmeros artifícios estéticos, como técnicas de ilusão de profundidade, chiaroscuro e riqueza de detalhes, por exemplo.

A seguir, reproduzimos algumas das obras mais famosas do estilo:

as meninas velasquez
As Meninas (1656), de Diego Velázquez (1599 – 1660)
A Ronda Noturna - Rembrandt
A Ronda Noturna (1642), de Rembrandt (1606 – 1669)
vocação de são mateus - Caravaggio
A Vocação de São Mateus (1600), de Caravaggio (1571 – 1610)
sansão e dalila
Sansão e Dalila (1630), de Antoon van Dyck (1599 – 1641)
Barroco
Triunfo da Imaculada (1710), de Paolo de Matteis (1662 - 1728).

Barroco no Brasil

O Barroco foi o primeiro movimento artístico com expressão no país, logo após a chegada dos portugueses, no período colonial. Deu-se, inicialmente, a partir da catequese dos povos originários pelos padres jesuítas. O barroco brasileiro, portanto, está diretamente relacionado ao ibérico, sobretudo ao espanhol.

A produção artística do barroco brasileiro tem suas primeiras representações no século XVII, com o estabelecimento da colonização portuguesa. O povoamento e domínio europeu se deu por meio da implementação da monocultura do açúcar no Nordeste e, posteriormente, ao ciclo do ouro mineiro. Ambas as atividades eram baseadas na escravidão.

Os principais nomes do estilo barroco no Brasil foram:

Gregório de Matos Guerra (1636 – 1696)

gregório de matos

Nascido na Bahia em 1636, o advogado Gregório de Matos é considerado o primeiro poeta do Brasil, assim como um dos principais representantes do estilo Barroco no país.

Filho de colonos portugueses abastados, o poeta iniciou seus estudos no Colégio Jesuíta baiano. Para dar continuidade à educação, mudou-se para Portugal, onde se formou no Curso de Cânones da Universidade de Coimbra.

Após formado, Gregório ainda viveu por muitos anos em Portugal, exercendo cargos públicos. Quando retornou ao Brasil, foi nomeado desembargador. Em seguida, após receber as ordens menores, foi nomeado tesoureiro-mór da Sé, cargo do qual foi logo destituído.

O poeta, então, começou a utilizar a sua pena para satirizar a sociedade local. Sua poesia satírica, extremamente corrosiva, criticava a todos, sem distinção: nobreza, burguesia mercantil, nativos, escravizados e até mesmo a Igreja. Essa postura crítica lhe rendeu o apelido de “Boca do inferno”, que o acompanha até hoje.

Por conta da sua rebeldia, Gregório de Matos foi degredado para Angola, onde viveu algum tempo. Por ajudar as autoridades portuguesas a desbaratar um motim na colônia africana, foi-lhe concedida a permissão para regressar ao Brasil, mas não para a Bahia. O poeta, então, transferiu-se para Pernambuco, onde faleceu, em 1696.

Além dos poemas satíricos, Gregório de Matos também escreveu poemas religiosos, líricos e eróticos (quase pornográficos). Sua obra tem grande influência de escritores barrocos espanhóis, como Quevedo e Góngora. Deste último, imitou o gosto pelo cultismo, o jogo de palavras que lhe é característico.

Vejamos, a seguir, um dos mais conhecidos poemas de Gregório de Matos Guerra. Este soneto, inclusive, serviu de inspiração, séculos mais tarde, para outro poeta baiano, Caetano Veloso, compor a canção Triste Bahia:

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Padre Antônio Vieira (1608 – 1697)

padre antónio vieira

Antônio Vieira foi padre jesuíta, escritor e orador nascido em Portugal em 1608. Sua obra é considerada uma das mais emblemáticas da literatura brasileira e portuguesa do século XVII.

Como missionário Jesuíta, Vieira viveu muitos anos no Brasil (onde faleceu, em 1697), atuando na catequização dos povos nativos. Aqui consolidou sua obra, escrevendo muitos dos seus famosos Sermões.

Defendeu durante toda a vida os direitos dos indígenas, dos judeus e dos escravos. Neste sentido, pregou a abolição da escravatura, criticando os governantes coloniais e até mesmo a poderosa Inquisição.

Além de sermões, Vieira também escreveu poesia, teatro e obra profética, que deixou incompleta. Sua obra é caracterizada pelo jogo de ideias, pela argumentação sutil, intrincada e erudita. Possui grande influência, portanto, do conceptismo desenvolvido originalmente pelo escritor espanhol Quevedo.

Vejamos, em seguida, o trecho de um de seus trabalhos mais conhecidos, o Sermão da Sexagésima. Nele, o autor associa a figura do catequizador a do semeador e, de maneira metalinguística, trata da forma como são escritos os sermões:

[...] Será pela matéria ou matérias que tomam os pregadores? Usa-se hoje o modo que chamam de apostilar o Evangelho, em que tomam muitas matérias, levantam muitos assuntos e quem levanta muita caça e não segue nenhuma não é muito que se recolha com as mãos vazias. Boa razão é também esta. O sermão há-de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não semeara muitos géneros de sementes, senão uma só: 'Exiit, qui seminat, seminare semen'. Semeou uma semente só, e não muitas, porque o sermão há-de ter uma só matéria, e não muitas matérias. [...]

Antônio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho" (1730 – 1814)

aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido pelo apelido, "Aleijadinho", foi importante arquiteto e escultor brasileiro do estilo Barroco. Ganhou o apelido por ser acometido por uma doença degenerativa, que gradualmente lhe deformou o corpo.

Pouco se sabe, ao certo, de sua biografia. Nasceu e morreu em Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais), na época do ciclo do ouro mineiro. Teria sido amigo, inclusive, de figuras importantes do Arcadismo brasileiro, como o poeta Cláudio Manuel da Costa, que teria sido uma espécie de tutor do artista.

Suas obras abarcam entalhes em madeira, esculturas, relevos e projetos arquitetônicos de fachada de igrejas. A Igreja de São Francisco, em São João del-Rei (MG), é uma de suas obras mais relevantes.

Seu estilo, sob a égide do Barroco e do Rococó, é único, graças a sua formação autodidata, longe das academias (escolas de arte). Por isso mesmo, é considerado por muitos como o maior artista colonial brasileiro, e um dos maiores expoentes da arte barroca ocidental.

Bibliografia:

  • BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira, 50ª ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
  • KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. São Paulo: Cajuína, 2020.
  • WOLFFLIN, Heinrich. Renascença e Barroco. São Paulo: Perspectiva, 2010.

Saiba mais:

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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