7 exemplos de artigos de opinião para entender este gênero textual

Juliana Theodoro
Revisão por Juliana Theodoro
Mestra em Ciências da Comunicação

Artigo de opinião é um tipo de texto em que seu autor apresenta o seu ponto de vista sobre um determinado assunto. Trata-se de um texto de caráter argumentativo, já que seu autor (o articulista) precisa construir uma argumentação baseada em dados e informações confiáveis para demonstrar a validade do seu ponto de vista.

Listamos abaixo 7 exemplos de artigo de opinião que nos ajudam a entender as características desse gênero textual.

Exemplo de artigo de opinião que apresenta o ponto de vista de quem o escreve

Todo artigo de opinião apresenta o ponto de vista (a opinião) de quem o escreve. Neste exemplo, altos funcionários africanos da Organização das Nações Unidas (ONU) assinam um artigo com duras críticas à violência policial contra populações negras.

Título: Protestos “Black lives matter” e outras manifestações contra o racismo sistêmico e a brutalidade policial
Tema: racismo e violência policial

Como líderes africanos nas Nações Unidas, as últimas semanas de protestos pelo assassinato de George Floyd sob custódia policial deixaram-nos indignados com a injustiça da prática do racismo que continua difundida em nosso país anfitrião e em todo o mundo.

Jamais haverá palavras para descrever o profundo trauma e o sofrimento intergeracional que resultaram da injustiça racial perpetrada ao longo dos séculos, particularmente contra pessoas de ascendência africana. Apenas condenar expressões e atos de racismo não é suficiente.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que “precisamos alçar a voz contra todas as expressões de racismo e casos de comportamento racista”. Após o assassinato do senhor George Floyd, o grito 'Black Lives Matter' [Vidas de pessoas negras importam] que ecoou nos Estados Unidos e em todo o mundo é mais do que um slogan. Realmente, eles não são apenas importantes mas são essenciais para o cumprimento de nossa dignidade humana comum.

Trecho de artigo de opinião assinado por vários altos funcionários africanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Publicado em ONU News, 15/06/2020.

Exemplo de artigo de opinião assinado pelo autor

Por ser um texto que exprime o ponto de vista de quem o escreve, todo artigo de opinião é assinado pelo seu autor, de modo a demonstrar que as ideias ali expressas são estritamente pessoais. No exemplo abaixo, quem assina o texto é Renato Zerbini Ribeiro Leão, membro do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.

Título: A arte
Tema: arte

A arte engloba arquitetura, cinema, dança, desenho, escultura, fotografia, literatura, música, pintura, poesia. Hoje em dia, em pleno século 21, até mesmo a televisão, a moda, a publicidade e os videojogos são por muitos considerados como manifestações artísticas. Segundo René Huyghe, a arte e o homem são indissociáveis. Não há arte sem homem, muito menos homem sem arte. O ser isolado ou a civilização que não chega à arte estão ameaçados por uma secreta asfixia espiritual, por uma turbação moral. Para a Unesco, a arte é chave para formar gerações capazes de reinventar o mundo herdado. Ela reforça a vitalidade das identidades culturais e promove a relação com outras comunidades.

A arte é a capacidade humana de criação. É a expressão ou aplicação de habilidades criativas e a imaginação para criar obras que são apreciadas principalmente por sua beleza, intelecto ou poder emocional. Seus resultados são obtidos por distintos meios. A arte de cozinhar, de pintar quadros, de grafitar, as artes plásticas, a arte de compor (poemas e partituras musicais), a gravura, a impressão de livros e, até mesmo, atrelados a um conceito mais severo, meios hoje em dia causadores de grande repulsa social, como a caça e a guerra, podem ser considerados como arte. O ser humano e a arte estão rigorosamente conectados. A arte liberta. E, atualmente, a arte de viver cada vez mais se faz indispensável para a emancipação humana.

Trecho de artigo de opinião escrito por Renato Zerbini Ribeiro Leão, Ph.D. em direito internacional e relações internacionais. Membro do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU. Publicado no Correio Braziliense, 26/01/2020.

Exemplo de artigo de opinião escrito em 1ª pessoa

É comum (mas não obrigatório) que artigos de opinião sejam escritos em 1ª pessoa. Por se tratar de um texto no qual o articulista expõe seu ponto de vista pessoal sobre um determinado assunto, nada mais natural que ele use a 1ª pessoa (do singular ou do plural).

No exemplo a seguir, nota-se o uso frequente da 1ª pessoa (ex.: "No meu ponto de vista..."). Usamos negrito para dar destaque ao uso da 1ª pessoa.

Título: A educação em tempos de Covid-19
Tema: educação e pandemia

Possivelmente, aqui no Brasil, a melhor solução para os alunos das redes públicas de ensino consistirá no uso de conteúdos transmitidos por meio dos celulares com internet. Exemplo dessa situação vem do estado de São Paulo, no qual a Secretaria de Educação negocia com as operadoras o patrocínio para bancar a conexão de Wi-Fi dos alunos que tenham ao menos um smartphone. Esse período vai exigir dos gestores que pensem fora da caixa.

No meu ponto de vista, essa será oportunidade para repensar o papel da escola e dos pais na vida escolar dos estudantes. Os pais, sobrecarregados pelos diferentes afazeres, estão cada vez mais terceirizando para a escola o seu dever de educar, na contramão do que apregoa o art. 205 da Constituição Federal, que afirma que educar é um dever do Estado e das famílias. Em uma de suas homilias, o papa Francisco afirmou, em tom preocupado: “Chegou a hora de os pais e as mães voltarem do seu exílio e recuperarem a sua função educativa. Oremos para que o Senhor conceda aos pais esta graça: a de não se autoexilarem da educação dos filhos”.

Outro aspecto que podemos tirar como lição: é preciso estudar como usar as novas tecnologias em harmonia com as aulas presenciais e como estabelecer um equilíbrio entre o ensino presencial e o ensino virtual. Hoje enfrentamos em nosso país árdua discussão sobre o uso do ensino mediado por tecnologias. Talvez esse período nos ensine que ambas as modalidades podem conviver em harmonia em prol de um projeto pedagógico que atenda às necessidades de uma educação voltada para o século 21. O não enfrentamento da questão talvez nos remeta à situação atual no que se refere às enormes desigualdades de acesso entre escolas públicas e particulares.

Trecho de artigo de opinião escrito por Mozart Neves Ramos, professor do Instituto de Estudos Avançados da USP-Ribeirão Preto. Publicado no Correio Braziliense, 02/04/2020.

Exemplo de artigo de opinião que aborda tema de relevância social

Todos os artigos de opinião desta lista abordam temas de relevância social, como o racismo, a educação, a arte, a mobilidade urbana etc. Temas de relevância social são aqueles que afetam diretamente a vida da sociedade como um todo ou de determinados grupos.

O texto abaixo aborda um tema de relevância social: o bullying. Esse tipo de violência está presente no cotidiano de muitas escolas no Brasil e no mundo e provoca danos físicos e psicológicos em suas vítimas. Devido à importância desse tema, especialistas vêm a público para dar sua opinião e apresentar propostas para combater o problema.

Título: Vale a pena investir em prevenção para evitar o bullying
Tema: bullying escolar

Esse tipo de violência tem acontecido muito em ambiente escolar. Há versões modernas como o cyberbullying, que são agressões via internet ou celular. Reprimi-lo, como a escola e a Justiça tentaram fazer, terá pouca chance de provocar uma transformação. Na verdade, a repressão impede uma mudança efetiva.

Apesar desses atos serem frequentes, pouco espaço tem existido nas escolas para reflexão, havendo apenas ações repressivas quando eles vêm à tona. Ora, o ser humano tem um lado agressivo e negá-lo ou colocá-lo no fundo de um poço não impedirá sua manifestação. Pelo contrário, poderá dar-lhe forças.

As ações escolares para combater o bullying devem ser no sentido de preveni-lo, onde mais que seguir uma conduta, o aluno possa dar sentido à ela, considerando a si e ao outro parte do mundo. Quando algo é questionado e pensado, propicia a tomada de consciência de sua dimensão e importância. O outro poderá ser visto como alguém que também tem sentimentos.

Um trabalho nesse sentido deve fazer parte do dia a dia de uma escola e envolver a família dos alunos. Muito do que somos e como nos expressamos tem sua origem lá. É necessário que ambos ajudem os jovens a se construir como pessoas, não só no que aprendem, mas como agem.

Trecho de artigo de opinião escrito por Ana Cássia Maturano, psicóloga e psicopedagoga. Publicado no portal G1 (Educação), 27/05/2010.

Exemplo de artigo de opinião que apresenta dados estatísticos

Para construir uma argumentação, é preciso selecionar ideias, citações, dados e informações que deem sustentação ao ponto de vista adotado. Dados estatísticos fornecem um retrato bastante preciso da realidade. Por isso, são aliados importantes na construção de uma argumentação.

No texto abaixo, destacamos em negrito o trecho em que o autor se utiliza de um dado estatístico para comprovar a existência da desigualdade social no Brasil.

Título: É preciso reduzir a desigualdade social brasileira
Tema: desigualdade social no Brasil

Os dados da desigualdade no Brasil são de arrepiar. Escolha qualquer indicador, mulheres e negros estão sempre abaixo de homens e brancos. No país, a renda do 1% mais rico é igual à dos 99% restantes. E ricos ficam cada vez mais ricos e pobres mais pobres.

No mundo, há 62 indivíduos com renda somada de US$ 1,7 trilhão, igual ao que ganham os 50% mais pobres do planeta. Mas nós, brasileiros, somos campeões mundiais em desigualdade.

O pior é que a maioria dos pobres no Brasil vive na periferia das cidades. Sonha com melhor emprego, transporte, segurança, saúde e educação. Mas sofre as mazelas do dia a dia. Quem mora na Restinga gasta três horas para ir e voltar do trabalho.

É claro que só sairemos do buraco se enfrentarmos a crise da Previdência, as distorções nas relações de trabalho e se tornarmos a economia mais competitiva. Mas, sem políticas que promovam melhor distribuição de renda e serviços públicos de melhor qualidade, o Brasil nunca avançará. É preciso cuidar dos mais vulneráveis. E isso exige patriotismo. Olhar menos para o próprio umbigo. Aceitar perder privilégios. É a única forma através da qual filhos de quaisquer brasileiros, sobretudo os mais pobres, poderão se tornar, um dia, profissionais mais competitivos. O Brasil está ruim até para os ricos. Muitos mantêm seus negócios aqui, mas a família já foi embora, para fugir da violência. Imagine a vida de quem não tem alternativa a não ser ficar.

Trechos de artigo de opinião escrito por Gilberto Schwartsmann, médico e professor. Publicado em GaúchaZH, 04/01/2019.

Exemplo de artigo de opinião que apresenta proposta de intervenção

Além de expor seu posicionamento sobre um determinado assunto, o articulista também pode propor intervenções - ou seja, medidas concretas que possam diminuir ou mesmo solucionar o problema. Abaixo, destacamos em negrito os trechos do texto em que as autoras fazem sua proposta de intervenção.

Título: Violência contra a mulher: silêncios oprimem e matam
Tema: violência contra a mulher

Há certa confusão sobre a função do Dia Internacional da Mulher. A data não pretende ser uma celebração do que se considera “feminino” ou um momento de congratulações. O 8 de Março é sobre ressaltar todas as injustiças, desigualdades e violências ― visíveis e invisíveis, às quais seguimos expostas todos os dias ―, e propor avanços. A violência contra a mulher tem padrões muito peculiares e particularmente complexos. Na maior parte das vezes, o agressor é uma pessoa do círculo de confiança da pessoa agredida; frequentemente, ela vê motivos para proteger seu agressor; atinge sobremaneira crianças e jovens; a violência física costuma ser precedida de abusos verbais e psicológicos.

Quando se trata de segurança pública, uma sociedade mais saudável não depende apenas de repressão a crimes. É necessário desenvolver políticas que compreendam a origem da violência e, dessa forma, evitem que um crime ocorra. O objetivo não deve ser simplesmente punir todos os crimes, mas, principalmente, ter cada vez menos crimes para punir. O mundo ideal precisa de menos impunidade, mas principalmente de menos vítimas.

Para combater a violência contra a mulher não precisamos, portanto, apenas de punição dos culpados: precisamos de dados que informem justamente as raízes da violência e permitam intervenções diretas nesses fatores. Quando iniciamos um projeto com o objetivo de reunir em um único lugar dados sobre violência contra a mulher, esperávamos colaborar com o poder público no combate à violência; ajudar a sociedade a compreender a gravidade do problema; e apoiar mulheres que sofreram ou sofrem violências, para que não se sintam sozinhas.

Trecho de artigo de opinião escrito por Carolina Taboada e Terine Husek, pesquisadoras do Instituto Igarapé. Publicado em El País, 09/03/2020.

Exemplo de artigo de opinião de caráter argumentativo

Todo artigo de opinião tem caráter argumentativo. Isso significa que o articulista recorre a um tipo de raciocínio que leva seus leitores a aceitarem seu ponto de vista.

No texto abaixo, o autor demonstra, num primeiro momento, que os congestionamentos são ruins para a economia. Depois, tenta mostrar como os problemas de mobilidade dificultam a democratização do espaço público. Para demonstrar essas afirmações, ele se utiliza de argumentos.

Leia mais sobre argumentação.

Título: Mobilidade urbana também é democratização
Tema: mobilidade urbana

Perdas de R$ 267 bilhões por ano. Esse é o impacto dos congestionamentos de trânsito na economia brasileira, segundo pesquisa divulgada no Summit Mobilidade Urbana 2019, em São Paulo. Além disso, o estudo mostrou que o brasileiro gasta, em média, 1h20 por dia para se deslocar para as atividades principais. Esse número pode chegar a 2h07 para que se cumpram todos os deslocamentos diários, o que resulta em 32 dias gastos por ano no trânsito. Ou seja, um mês perdido em engarrafamentos. A mobilidade urbana é realmente um dos maiores problemas do Brasil e afeta, inclusive, a democratização do uso de espaços e o acesso a oportunidades. Um problema de longa data que não vislumbra solução em um curto ou médio prazo.

Mobilidade urbana é um tema constantemente discutido no Brasil. A maioria das grandes cidades sofre com graves problemas de transporte e enfrentam desafios em promover meios de diminuir o impacto do trânsito no dia a dia da população. Uma das causas do aumento de engarrafamentos é bem óbvia: temos mais carros nas ruas. Governos passados investiram no desenvolvimento da indústria automobilística, facilitando o acesso a veículos particulares, o que deixou as vias públicas sobrecarregadas. Na contramão, não houve – e continua sem haver – programas de incentivo ao transporte público, coletivo, mais econômico.

Para explicitar o contrassenso, basta ver diversas cidades pelo mundo em que o transporte público é prioridade, os ônibus e metrôs são de boa qualidade e as pessoas se locomovem com facilidade; enquanto aqui, pelo contrário, os coletivos têm o estigma de serem transportes para as faixas mais baixas da sociedade. Também pudera: infraestrutura inadequada, veículos velhos, malha de atendimento ainda restrita, tudo isso dificulta o uso desses modais como prioridade pela população. Grande parte dessa realidade vem da falta de interesse governamental em estabelecer programas de desenvolvimento que contemplem a mobilidade urbana sustentável.

Um bom sistema de mobilidade urbana também tem seu viés de democratização do espaço público. O modelo centro-periferia que predomina no Brasil dificulta a vida dos que vivem nas áreas mais distantes, e isto somado à falta de uma infraestrutura de transporte reforça a segregação social. O bem-estar e a qualidade de vida também são muito influenciados pelo trânsito. Essa é uma problemática que não passa apenas pela mobilidade, mas pela própria ocupação do espaço urbano

Trecho de artigo de opinião escrito por Janguiê Diniz, Presidente do Conselho de Administração do grupo Ser Educacional. Publicado no Diário de Pernambuco, 04/10/2019.

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Juliana Theodoro
Revisão por Juliana Theodoro
Mestra em Ciências da Comunicação e especialista em Estudos de Mídia e Jornalismo, com ênfase em Estudos de Gênero e Análise do Discurso. É jornalista desde 2016.
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