Trovadorismo

Equipe da Enciclopédia Significados
Equipe da Enciclopédia Significados
Criado e revisado pelos nossos especialistas

O que é o trovadorismo:

Trovadorismo foi um movimento poético e literário iniciado no século XI, no sul da França, na região da Provença. Nessa época as poesias (chamadas de cantigas) eram feitas para serem cantadas ao som da flauta, viola ou alaúde.

O trovador era o autor das composições. O cantor era chamado de jogral, e o menestrel era considerado superior ao jogral por ter mais instrução e habilidades artísticas, sabia tocar e cantar.

Os trovadores provençais eram considerados os melhores da época, o estilo foi imitado em toda a parte e se espalhou pela Europa. A maior parte dos trovadores tinha origem na nobreza.

Os textos poéticos do trovadorismo eram marcados por traços requintados da aristocracia e expressavam a veneração pela mulher. As principais manifestações literárias do trovadorismo foram a canção, a pastourelle e a sextina.

O trovadorismo atingiu o seu apogeu por volta de 1150 a 1170, na realeza de Provença e se espalhou pelo norte da França e Itália.

Contexto histórico do trovadorismo

O trovadorismo aconteceu durante o período da Idade Média. Nesta época, o feudalismo e a Igreja dominavam a sociedade, e a influência da Igreja era dominante em toda a Europa. Por isso, os valores da sociedade eram regidos pela Igreja e pela fé no cristianismo.

No feudalismo a sociedade era rural e as classes sociais eram bem divididas. Quem era proprietário de terras fazia parte da burguesia e possuía poder e dinheiro. Já os trabalhadores do campo (vassalos), trabalhavam nos feudos, serviam aos senhores feudais e viviam em condições muito simples.

Assim, a sociedade era dividida entre o clero (Igreja), a nobreza (senhores feudais) e a plebe (camponeses).

Características do trovadorismo

Uma das características mais marcantes do movimento era a união que existia entre a poesia e a música. As cantigas dos trovadores eram apresentadas e acompanhadas de instrumentos musicais.

Os sentimentos de amizade e de amor eram temas muito frequentes no trovadorismo. As cantigas que tratavam destes temas eram chamadas de cantigas de amigo e cantigas de amor.

Havia também as cantigas que faziam críticas e sátiras com o modo de vida da sociedade da época, a burguesia feudal. Estas cantigas ficaram conhecidas como cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.

Conheça as principais características do Trovadorismo.

Tipos de cantigas do trovadorismo

No trovadorismo havia gêneros diferentes de cantigas: o gênero lírico e o gênero satírico.

As cantigas líricas eram dividas em cantigas de amor e cantigas de amigo. Já as cantigas satíricas eram divididas em cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.

Cantigas de amor

Nas cantigas de amor o tema principal era o amor, os sentimentos românticos e a dor do amor não correspondido. O amor era descrito como um sentimento perfeito e quase inatingível, muitas vezes idealizado.

Uma das características mais marcantes deste tipo de cantiga era a veneração do trovador pela mulher amada. Os trovadores descreviam a mulher como um ser quase perfeito e inalcançável. Eles colocavam-se em posição de inferioridade e submissão em relação à mulher que amavam.

Nessas cantigas o homem apaixonado prometia seu amor eterno, fidelidade e proteção da honra da mulher amada.

Conheço certo homem, ai formosa,
Que por vossa causa vê chegada a sua morte;
Vede quem é e lembrai-vos disso;
Eu, minha senhora.

Conheço certo homem que perto sente
De si a morte chegada certamente;
Vede quem é e tende-o em mente;
Eu, minha senhora.

Conheço certo homem, escutai isto:
Que por vós morre e vós desejais que ele parta;
Vede quem é e não vos esqueçais dele;
Eu, minha senhora.

(autor desconhecido)

Cantigas de amigo

Nas cantigas de amigo, além dos sentimentos relativos à amizade, também se falava sobre o amor. Nestas cantigas, geralmente a narradora era uma mulher (eu lírico feminino), que descrevia e declarava seus sentimentos amorosos por um amigo ou pelo um homem amado.

Os temas da dor da separação, do sentimento de abandono e da tristeza pelo amor não correspondido eram os mais frequentes nas cantigas de amigo.

As cantigas de amigo, embora fossem narradas como se tivessem sido escritas por uma mulher, também eram escritas pelos trovadores.

Ai meu amigo, coitada
vivo, porque vos nom vejo,
e, pois vos tanto desejo,
em grave dia foi nada
se vos cedo, meu amigo,
nom faço prazer e digo.

Pois que o cendal venci
de parecer em Valongo,
se m'ora de vós alongo,
em grave dia naci
se vos cedo, meu amigo,
nom faço prazer e digo.

Por quantas vezes pesar
vos fiz de[s] que vos amei,
algũa vez vos farei
prazer, e Deus nom m'ampar
se vos cedo, meu amigo,
nom faço prazer e digo.

(Martim Padrozelos)

Cantigas de escárnio

O tema central das cantigas de escárnio eram as críticas sociais feitas pelos trovadores. O trovadorismo existiu no período do feudalismo e as cantigas de escárnio criticavam o modo de vida, os costumes e os valores que eram importantes para a sociedade burguesa da época.

As críticas feitas nas cantigas de escárnio não eram muito diretas. O mais comum era que as cantigas contivessem ambiguidades e trocadilhos que, indiretamente, faziam uma sátira da sociedade.

Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!

Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!

Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!

(Joan Garcia de Guilhade)

Cantigas de maldizer

As cantigas de maldizer, assim como as cantigas de escárnio, também faziam críticas. A maior diferença entre estes dois tipos de cantigas era a maneira como elas eram feitas, já que nas cantigas de maldizer não havia indiretas ou trocadilhos.

Nas cantigas de maldizer os trovadores eram diretos em suas críticas, era comum que citassem os nomes das pessoas satirizadas. O palavreado usado nas cantigas também era mais direito e grosseiro e incluía, até mesmo, o uso de palavrões e palavras obscenas.

Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas.

(Afonso Eanes de Coton)

Trovadorismo em Portugal

O trovadorismo teve em Portugal o seu centro irradiador na Península Ibérica. Os Cancioneiros são os únicos documentos que reúnem características do trovadorismo. São coletâneas de cantigas com características variadas e escritas por diversos trovadores. São classificadas em: Cantigas de amigo, Cantigas de amor e Cantigas de escárnio e Cantigas e maldizer.

O ano de 1198 é a data provável da primeira composição literária conhecida - a Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga de Guaravaia, escrita pelo trovador Paio Soares de Taveirós, é assinalada como marco inicial da literatura portuguesa.

Principais autores e obras do trovadorismo

Os autores mais conhecidos do período do trovadorismo são:

  • Afonso Eanes de Coton
  • Afonso Sanches
  • Affonso Fernandes Cubel
  • Aires Corpancho
  • Airas Nunes
  • Arnaut Daniel
  • Bernal de Bonaval
  • Bertran de Born
  • Dom Dinis
  • Guilherme IX da Aquitânia
  • Jaufre Rudel
  • João Garcia de Guilhade
  • João Soares de Paiva
  • Johan de Cangas
  • Joham Zorro
  • Juan Lopes d'Ulhoa
  • Lopo Dias
  • Meendinho
  • Martim Codax
  • Nuno Fernández Torneol
  • Paio Soares Taveirós
  • Pedro Afonso, Conde de Barcelos
  • Peire Vidal
  • Pero Garcia Burgalês
  • Pêro da Ponte
  • Ricardo Coração de Leão
  • Thibaut IV de Champagne

Conheça os nomes de algumas das obras mais conhecidas do trovadorismo:

  • A Dona Maria [há] soidade (Lopo Dias)
  • Ai flores de verde pino (Dom Dinis),

Leia um trecho de "Ai flores de verde pino":

Ai flores, ai flores do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do qui mi há jurado?

  • Cantiga de amor (Afonso Fernandes)

Veja um trecho da Cantiga de amor:

Senhora minha, desde que vos vi,
lutei para ocultar esta paixão
que me tomou inteiro o coração;
as não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.

  • Cantiga de Ribeirinha (Paio Soares Taveirós)
  • Dona fea (João Garcia de Guilhade)
  • Ondas do mar de Vigo (Martim Codax)

Leia "Ondas do mar de Vigo":

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
e ai Deus, se verrá cedo?
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
e ai Deus, se verrá cedo?
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
e ai Deus, se verrá cedo?
Se vistes meu amado,
o por que hei gram coidado?
e ai Deus, se verrá cedo?

  • Roi Queimado morreu com amor (Pero Garcia Burgalês).

Leia também sobre o Feudalismo.

Equipe da Enciclopédia Significados
Equipe da Enciclopédia Significados
O Significados conta com uma equipe de especialistas e entusiastas para produzir, organizar e revisar os conteúdos.
Outros conteúdos que podem interessar