Poesia: o que é, tipos, características e exemplos
Poesia é a expressão artística por meio do uso criativo da linguagem. A palavra deriva do grego poiesis, que significa "ato de criar, criação". É frequentemente associada à própria arte, uma vez que toda expressão artística é linguagem.
No âmbito da Literatura, a poesia, quanto à forma, é tradicionalmente relacionada ao poema, expressão literária caracterizada pela composição em versos e estrofes, marcada pelo uso da métrica e da linguagem figurada.
O texto poético possui uma longa história que remonta a tempos imemoriais. A obra literária mais antiga, por exemplo, a epopeia Gilgamesh, é uma obra poética criada por volta do século XXVII a.C., na Mesopotâmia.
Em 1923, o escritor italiano Ricciotto Canudo estabeleceu a poesia como uma das sete artes tradicionais, ao lado da arquitetura, escultura, pintura, música, dança e cinema.
Gêneros Poéticos
Antes da invenção da escrita, toda manifestação literária era produzida em versos e transmitida oralmente, acompanhada de música. Os primeiros textos literários mantiveram escritos essa configuração. Quando Aristóteles, na Grécia Antiga, classificou a literatura gêneros, todos eles eram produzidos em versos. Portanto, existe poesia épica (ou narrativa), lírica e dramática.
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Poesia Épica ou Narrativa: conta uma história, que pode ser longa e grandiosa, frequentemente envolvendo heróis e aventuras (epopeia), ou numa escala menor, focada em eventos cotidianos ou pessoais (narrativa).
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Poesia Dramática: escrita para ser encenada como um drama teatral, inclui monólogos e diálogos que revelam os pensamentos e emoções dos personagens.
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Poesia Lírica: forma de expressão pessoal e emocional. Geralmente reflete os sentimentos, pensamentos e estados de espírito de um eu-lírico.
Poesia Lírica
Ao longo dos séculos, a prosa conquistou gradualmente o lugar do verso como expressão literária predominante, o que levou a poesia a se tornar cada vez mais associada ao gênero lírico.
Tipos de Poesia Lírica
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Ode: tipo de poesia lírica que exalta ou celebra uma pessoa, objeto ou conceito. Pode ser dividida em várias estrofes, geralmente com padrões de rimas específicos. As odes muitas vezes abordam temas de grande importância, como amor, beleza, arte ou natureza.
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Elegia: forma de poesia lírica que se concentra em temas melancólicos e tristes, geralmente em resposta à perda, morte ou luto. Expressa tristeza e reflexão sobre o que foi perdido.
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Écloga: tipo de poesia lírica que se concentra principalmente em representar a vida no campo, geralmente de forma idealizada e bucólica. Essa forma poética tem uma longa história e é mais comumente associada ao período da Roma Antiga, embora também tenha influenciado a poesia pastoral em outros momentos e culturas.
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Epinício: poesia lírica que celebra a vitória ou o sucesso em competições atléticas, militares ou artísticas. É uma forma de poesia de triunfo.
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Epitalâmio: poesia lírica que se destina a celebrar o casamento e a felicidade dos noivos.
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Sátira Menor: enquanto a sátira geralmente se enquadra no domínio da poesia satírica, a "sátira menor" é um tipo específico de poesia lírica que critica, ridiculariza temas ou comportamentos cotidianos de forma mais leve.
Características da poesia lírica
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Subjetividade: a subjetividade é uma característica fundamental da poesia lírica. Cada poema é uma expressão única da perspectiva e experiência pessoal.
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Expressão Emocional: a poesia lírica é altamente pessoal e emocional. Expressa os sentimentos, pensamentos e experiências íntimas do eu-lírico. Essa expressão emocional é uma das marcas distintivas da poesia lírica.
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Uso criativo da Linguagem: os poetas líricos são altamente sensíveis à escolha de palavras, à sonoridade e à estrutura de seus poemas. Procuram sempre formas criativas de usar a linguagem para transmitir emoções e pensamentos.
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Linguagem Figurada: a poesia lírica frequentemente emprega figuras de linguagem, como metáforas, metonímias, aliterações e comparações, para criar imagens vívidas e transmitir emoções de maneira mais intensa.
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Musicalidade e Ritmo: a sonoridade e o ritmo das palavras desempenham um papel fundamental na poesia lírica. A escolha de palavras, a métrica, a aliteração e a assonância contribuem para a musicalidade do poema.
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Temas: A poesia lírica frequentemente se concentra em temas como amor, beleza, natureza, identidade, tempo e mortalidade. Esses temas universais são explorados de maneiras pessoais e únicas.
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Ambiguidade: a poesia lírica muitas vezes incorpora ambiguidade e múltiplas interpretações. Os poemas podem ser abertos a diferentes entendimentos e convidar os leitores a refletirem sobre o significado.
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Versatilidade de Forma: Embora a maioria dos poemas líricos seja escrita em versos e estrofes, a poesia lírica pode assumir uma variedade de formas, desde sonetos e odes estruturadas até versos livres que desafiam as convenções tradicionais.
Exemplos de poesia lírica
"Amor é fogo que arde sem se ver" (Luís Vaz de Camões)
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
Autopsicografia (Fernando Pessoa)
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Quadrilha (Carlos Drummond de Andrade)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Soneto de Separação (Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
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