O que é uma casta e como funcionam as castas indianas
As castas são uma forma tradicional de estratificação social, ou seja, uma maneira de dividir os indivíduos em grupos dentro de uma sociedade.
A estratificação social é comum na maioria das sociedades, e podem ser feitas baseadas em preceitos econômicos, culturais, religiosos, entre outros.
Em uma sociedade organizada em castas sociais, o indivíduo ao nascer é destinado à casta que a sua família pertence e não há a possibilidade de mudança de casta.
As principais características de uma sociedade dividia em castas são a hereditariedade e a falta de mobilidade social.
A Índia é o exemplo mais conhecido de país que foi organizado pelo sistema de castas. Casta, em sânscrito (língua antiga falada na Índia), significa "cor". A divisão indiana em castas está relacionada com a sua cultura e com o hinduísmo, religião mais praticada no país.
As castas na Índia
A Índia é o país mais conhecido por possuir um sistema de castas, mas o Nepal também tem o mesmo sistema de estratificação. As castas nesses dois países estão relacionadas com a religião hinduísta.
A Constituição indiana aboliu o sistema de castas em 1940 e rejeita qualquer discriminação com base nelas, em consonância com os princípios democráticos que fundamentam o país. Entretanto, a divisão entre castas permanece na sociedade como um aspecto cultural relevante, especialmente em vilas e cidades menores.
As castas indianas são hereditárias: a condição do indivíduo passa de pai para filho e cada integrante só pode se casar com pessoas do mesmo grupo. As castas também estão relacionadas com a ocupação profissional de cada família.
Existem quatro castas principais na Índia:
Brâmanes (brahmins) - que são os sacerdotes, intelectuais, letrados, professores.
Xátrias (kshatriya) - que são os militares, guerreiros, políticos, administradores.
Vaixás (vaishyas) - que são os comerciantes, agricultores, pessoas com formação qualificada.
Shudras - que são os servos, ou seja, operários, artesãos, camponeses, pessoas com formação média ou baixa.
Além das quatro castas principais, existem também os chamados "dalits" ou "intocáveis", um grupo de pessoas considerado sem casta e que acaba por realizar trabalhos pesados e de limpeza.
A pirâmide ilustrativa da ordem das castas indianas, das castas consideradas mais altas (no topo) para as mais baixas (a base):
Com o passar das décadas e o crescimento da sociedade indiana, as castas foram se subdividindo, tornando-se uma complexa estrutura com milhares de sub-castas.
As sub-castas foram surgindo devido às novas ocupações profissionais, principalmente relacionadas com as novas tecnologias, e que não se encaixavam nas profissões das "castas clássicas".
A origem hinduísta das castas
O sistema de castas está presente no importante livro sagrado do hinduísmo, o Manusmriti, que tem mais de 3000 anos. Segundo a tradição, as quatro castas se originaram do corpo do deus Brahma (o criador).
Os brâmanes teriam surgido da cabeça do deus. Os xátrias, dos braços. Os vaixás, das coxas/pernas. E os shudras, dos pés. Já os dalits teriam surgido da poeira dos pés, portanto, não têm casta.
Além de sua essência cultural e religiosa, o sistema de castas serviu como uma forma de classificação da sociedade indiana para os colonizadores britânicos. Até aproximadamente o século XVIII, o sistema de castas baseado unicamente na tradição hinduísta tinha certa flexibilidade. Entretanto, após o domínio britânico, a segregação foi intensificada.
Preconceito entre castas
A divisão entre castas construiu uma forte segregação na Índia. As castas mais baixas, especialmente os shudras e os dalits, eram discriminadas, enquanto as castas mais altas recebiam privilégios do estado.
Vilas foram segregadas, inclusive poços de água não podiam ser divididos com castas inferiores. As castas mais altas não aceitavam bebidas oferecidas por membros de castas baixas, especialmente os shudras, e tocar um dalit era tido como uma espécie de mau agouro ou azar.
Uma década após a abolição legal das castas, em 1950, o estado indiano passou a oferecer cotas para as castas mais baixas terem acesso a cargos públicos e instituições de ensino. As cotas possibilitaram maior acesso das castas inferiores à educação e a tomada de decisão governamental.
As cotas e a educação laica (que não é religiosa) ajudaram a enfraquecer a relevância social das castas. Casamentos entre castas têm, lentamente, tornado-se mais comuns.
Apesar dos avanços, o sistema de castas ainda é importante, especialmente longe das grandes cidades. E o sistema de cotas tem sido criticado por ser usado como argumento por políticos para obter votos de uma casta específica.
Com funcionam as castas sociais
As castas sociais são consideradas uma forma tradicional de divisão social, que tem como base valores principalmente culturais. As castas são classificadas como um modelo endogâmico de estratificação social.
Endogamia é o nome dado para uniões e relacionamentos matrimoniais que acontecem dentro de um mesmo grupo, seja uma mesma família, comunidade étnica ou grupo social.
O sistema de castas é fundamentado na hereditariedade, ou seja, um indivíduo sempre pertence a mesma casta que os seus pais e a sua família. E na impossibilidade de mudança de casta, não existe mobilidade social. A pessoa nasceu em uma casta e irá morrer na mesma casta.
Diferenças entre castas e classes sociais
O Brasil, e a maioria das sociedades capitalistas, utiliza as classes sociais para a divisão social. As classes sociais permitem mobilidade social e estão diretamente relacionadas com as questões econômicas (ricos e pobres), o que a difere das castas. Tanto as castas como as classes são formas de estratificação social.
Nas castas não importam as questões econômicas, somente os valores culturais. Uma família pode ter uma excelente situação financeira e pertencer a uma casta baixa, ou o contrário, uma família pobre pode estar entre as castas mais altas.
Veja também outras formas de estratificação social.
Fontes bibliográficas:
BERGAMIM, M. & GOMES, V. Sistemas de castas na Índia e os intocáveis. Revista Documento/Monumento, Universidade Federal do Mato Grosso, v23, n1, 2018.
COSTA, F. Os indianos. São Paulo: Contexto, 2012.
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