Gramática

Igor Alves
Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Gramática é o conjunto de regras que governam o uso de uma língua. Essas regras determinam, especialmente, como os elementos linguísticos se relacionam de maneira a formarem combinações mais complexas, a exemplo das palavras, que obedecem regras para se reunirem e criarem frases.

A expressão também é usada para denominar um ramo da Linguística responsável por estudar as regras que regem os elementos das diversas línguas.

A palavra denomina igualmente os livros que apresentam estudos sobre as relações entre os elementos linguísticos de uma determinada língua. Tais estudos podem ser baseados em diversas abordagens distintas entre si, gerando diferentes tipos de gramáticas.

Entre esses tipos, a Gramática Normativa ou Prescritiva é a mais popular, uma vez que é socialmente estabelecida como norma para o uso da língua, sendo ensinada no período escolar. No Brasil, por exemplo, os alunos aprendem nas escolas a Gramática da Língua Portuguesa.

Divisão das regras: as 10 áreas da gramática

A Gramática costuma ser dividade em partes independentes, porém complementares, a fim de facilitar o seu estudo. A classificação convencional divide a Gramática em 10 áreas. São elas:

1. Fonética

Fonética é o estudo dos sons da fala, incluindo sua produção, transmissão e recepção, bem como as características acústicas e físicas desses sons.

2. Fonologia

Fonologia é o estudo dos fonemas, ou seja, dos sons distintivos de uma língua, bem como as regras que governam a sua combinação e distribuição nas palavras.

3. Morfologia

Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras, incluindo a sua formação, classificação e variação. Ela se concentra na análise dos morfemas, as unidades mínimas de significado que compõem as palavras.

4. Sintaxe

Sintaxe é o estudo da estrutura e organização das frases e orações em uma língua. Analisa a relação entre as palavras e a sua função gramatical, bem como a gramática das frases, ou seja, como as palavras se combinam para formar sentenças coerentes.

5. Semântica

Semântica é o estudo do significado das palavras, frases e textos em uma língua, analisando as relações entre os significados das unidades linguísticas e o mundo real, incluindo os significados lexical e contextual das palavras e frases.

Veja mais sobre Semântica.

6. Pragmática ou Comunicação

Pragmática é o estudo do uso da linguagem em contextos sociais, culturais e situacionais específicos. Analisa as intenções comunicativas, as inferências e os efeitos que as palavras e as ações têm sobre o interlocutor. Também investiga a linguagem em situações reais de comunicação e as implicações sociais e culturais do discurso.

7. Etimologia

Etimologia é o estudo da origem e evolução das palavras, incluindo sua formação e significado, bem como as mudanças que ocorreram em seu uso ao longo do tempo e em diferentes idiomas. Ela analisa a estrutura e das raízes das palavras para entender seu significado e sua relação com outras palavras da mesma língua ou de línguas diferentes.

Saiba mais sobre Etimologia.

8. Lexicologia

Lexicologia é o estudo das palavras, sua formação, significado, variação e uso em um determinado idioma. É uma área que analisa o léxico de uma língua, ou seja, o conjunto de palavras que fazem parte do vocabulário, além de explorar a relação entre as palavras e sua evolução histórica.

9. Estilística

Estilística é a área da gramática que estuda os recursos estilísticos utilizados na linguagem, como a escolha de palavras, a ordem e estrutura das frases, os figurativos de linguagem, entre outros. O objetivo da estilística é compreender como a linguagem é usada para produzir efeitos de sentido e emoções nos leitores ou ouvintes.

10. Literatura

Estuda de obras literárias enquanto manifestações criativas do usa da língua, muitas vezes consideradas exemplos de uso da língua em seu nível mais complexo e mesmo elevado.

Tipos de Gramática

Existem diversos tipos de gramática. Dentre eles, quatro possuem destaque:

Gramática Normativa ou Prescritiva

Baseada em convenções linguísticas e sociais, a Gramática Normativa ou Prescritiva é amplamente aceita como a forma padrão de escrever e falar uma língua.

A gramática normativa abrange tópicos como ortografia, pontuação, concordância verbal e nominal, regência verbal e nominal, colocação pronominal, entre muitos outros. Visa, portanto, estabelecer as normas e regras para uma comunicação padronizada, clara e eficaz.

No entanto, é importante ressaltar que a gramática normativa não é imutável ou definitiva, pois a língua é uma entidade viva e em constante evolução. Deste modo, as normas e regras gramaticais podem e devem mudar ao longo do tempo.

Por considerar "erradas" outras variantes linguísticas que não obedecem suas normas, a Gramática Normativa também pode gerar o preconceito linguístico. Este fenômeno social ocorre quando determinados grupos são discriminados e desvalorizados pela maneira como falam ou escrevem.

Gramática Comparativa

Também chamada de Contrastiva, a Gramática Comparativa estabelece comparações entre diferentes línguas ou variedades linguísticas para estabelecer semelhanças e diferenças gramaticais.

Por meio de metodologias como a análise contrastiva e a tipologia linguística, compara línguas em diferentes níveis, como a fonologia, morfologia, sintaxe e semântica.

A Gramática Comparativa é importante para o desenvolvimento de teorias linguísticas, como a teoria da gramática universal, de autoria do linguista norte-americano Noam Chomsky.

Esse tipo gramatical também tem implicações práticas para a tradução, ensino de línguas estrangeiras e comunicação entre pessoas que falam idiomas diferentes.

Gramática Descritiva

Diferentemente da Gramática Normativa, que prescreve como a língua deve ser usada, a Gramática Descritiva se preocupa em descrever como a língua é usada pelos falantes.

A Gramática Descritiva considera as variações linguísticas que existem em uma língua. Busca, assim, compreender como essas variações afetam a gramática, permitindo aos linguistas e falantes compreenderem como a língua funciona em sua complexidade e diversidade.

Possui, portanto, uma abordagem sincrônica, isto é, preocupa-se em analisar a língua como ela é falada e escrita no momento presente, sem se preocupar com sua origem ou como ela mudou ao longo do tempo.

Ainda que desconsidere as noções de "certo" e "errado" da Gramática Normativa, a Gramática Descritiva não é relativista. Preocupa-se, na verdade, em descrever a língua de maneira objetiva, analisando as regras gramaticais observadas na prática linguística e buscando compreender como essas regras funcionam e evoluem.

Gramática Histórica

A Gramática Histórica parte do princípio de que as línguas são dinâmicas e estão sempre em processo de mudança. Dessa forma, ela se preocupa em investigar as origens das palavras e das estruturas gramaticais de uma língua, assim como as transformações que elas sofreram ao longo do tempo.

Apresenta, neste sentido, uma abordagem diacrônica. Em outras palavras, visa analisar a língua em diferentes períodos históricos e em entender como ela mudou e se desenvolveu ao longo do tempo.

Os linguistas que se dedicam à gramática histórica utilizam diversas ferramentas para estudar a evolução das línguas. Entre essas ferramentas, estão a análise comparativa entre línguas relacionadas, a análise de textos antigos e a reconstrução das formas mais antigas de uma língua.

Ela ajuda, portanto, a explicar as diferenças que existem entre as línguas modernas e as línguas antigas, assim como as mudanças que ocorreram em cada uma delas.

Apresentamos a seguir uma tabela comparativa entre esses quatro tipos de gramática:

Tipo de Gramática Objetivo Exemplo
Gramática Normativa Padronização e correção do uso da língua "Não se deve utilizar 'mais' no lugar de 'mas'."
Gramática Comparativa Identificação de semelhanças e diferenças entre línguas Comparação entre o uso dos artigos definidos em inglês e em francês.
Gramática Descritiva Descrição dos aspectos da língua e como ela é realmente usada "Os falantes da região X costumam utilizar essa palavra de forma diferente dos falantes da região Y."
Gramática Histórica Entender como a língua mudou ao longo do tempo Estudo das mudanças na língua inglesa desde a sua origem até o presente.

É importante lembrar que essas categorias não são mutuamente exclusivas e podem se sobrepor em algumas áreas de estudo da linguística. Cada uma dessas abordagens tem seu próprio conjunto de ferramentas e metodologias para análise e interpretação da língua.

Origem da gramática da língua portuguesa

As primeiras gramáticas sistemáticas tiveram sua origem na Índia durante a Idade do Ferro, no século VI a.C.

Já no Ocidente, a obra mais antiga, intitulada Arte da Gramática, é atribuída ao gramático grego Dionísio, o Trácio (100 a.C.), e serviu de base para as gramáticas grega, latina e de outras línguas europeias até o período do Renascimento.

A primeira gramática da língua portuguesa chama-se Grammatica da lingoagem Portuguesa, escrita por Fernão de Oliveira em 1536.

Bibliografia:

  • BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 1999.
  • CHOMSKY, Noam; JAKOBSON, Roman et alii. Novas Perspectivas Linguísticas. Petrópolis: Vozes, 1971.

Veja também:

Igor Alves
Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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