Nanã
Nanã, também conhecida como Anamburucu, Borocô, Nanamburucu, Nanan Buruku e Nanã Buruquê, é uma divindade das religiões afro-brasileirase da mitologia iorubá. Considerada a iabá (orixá feminino) mais antiga e sábia, é mãe de muitos orixás, como Omolu, Irocô, Ossaim, Oxumaré e Euá.
É a senhora dos pântanos, da lama e das águas paradas. Também é a divindade guardiã do portal entre o mundo dos vivos e dos mortos, recebendo as almas dos desencarnados e as enviando para a reencarnação.
A iabá é geralmente representada como uma mulher idosa, de pele negra e cabelos brancos, sempre acompanhada de seu cajado, o ibiri.
Nanã, uma das responsáveis pela criação da humanidade, é um orixá temida e respeitada, de grande poder e sabedoria. Protetora dos idosos, dos doentes e dos mortos, tem um lugar simbólico que se assemelha ao ocupado pela lendária Grande-Mãe em outras religiões.
Significado e história de Nanã
A palavra "nanan", em iorubá, traduz-se como "raiz", simbolizando aquela que está no interior da terra.
Nanã Buruquê é uma divindade originária da cultura daomeana (atual Benin), reconhecida como o orixá mais antigo do mundo. Já estaria presente no planeta quando Orumilá fecundou a Terra. É, portanto, uma iabá da pré-história, anterior à era do ferro.
Existem diversos mitos associadas à Nanã. Apresentamos, a seguir, quatro das principais histórias relacionadas à divindade.
Nanã e Omolu
Nessa lenda, a primeira Iabá é retratada como uma divindade vaidosa que desprezou seu filho primogênito, Omolu, por este nascer com várias doenças de pele. Ela o abandonou numa praia, onde Iemanjá o encontrou e o criou com amor e carinho.
Quando Oxalá soube do que Nanã fez, condenou-a a ter mais filhos com deficiências (Oxumaré, Euá e Ossaim) e a expulsou do reino, ordenando-lhe que fosse viver num pântano escuro e sombrio.
Criação do homem
Olorum, o deus supremo, encarregou Oxalá, o orixá da criação, de criar o homem. Oxalá tentou diversos materiais, mas nenhum deles era suficientemente maleável.
Foi então que Nanã, a orixá das águas paradas, ofereceu a Oxalá uma porção de barro do fundo do lago em que habitava. Com esse material, Oxalá finalmente conseguiu moldar o homem.
Olorum, então, soprou o fôlego da vida no homem, dando-lhe a força vital para realizar tarefas. Posteriormente, os outros orixás se incumbiram de auxiliar o homem a povoar as terras do mundo.
Por ser feito de um elemento que pertence a Nanã, o homem está destinado a morrer. Afinal, Nanã reivindica de volta aquilo que um dia ofereceu para o homem existir.
Nanã e Oxalá
Conta-se também que era a única divindade que podia invocar os Eguns, os espíritos dos mortos. Oxalá, o orixá da criação e da ordem, queria esse poder para si. Para tanto, deu a Nanã uma poção mágica que a fez se apaixonar por ele. A deusa concordou em dividir o reino com Oxalá, mas ela o proibiu de entrar no Jardim dos Eguns.
Oxalá, muito astuto, espionou Nanã e aprendeu o ritual de invocação dos Eguns. Disfarçou-se de mulher e foi ao Jardim dos Eguns, onde ordenou aos espíritos que obedecessem a ele.
Quando Nanã descobriu o golpe, ficou furiosa. Tentou lutar contra Oxalá, mas ele era mais forte demais. A iabá acabou aceitando deixar o poder com Oxalá, mas nunca o perdoou por isso.
Nanã e Ogum
Em outra lenda, conta-se que os orixás estavam discutindo qual deles era o mais importante. A maioria acreditava que Ogum, o orixá do ferro, era o mais importante, porque tinha dado à humanidade o conhecimento sobre o uso do metal.
Nanã discordou, argumentando que o ferro não era tão importante assim, pois era possível torcer o pescoço dos animais com as próprias mãos. Por esse motivo, os sacrifícios feitos à divindade não podem ser feitos com instrumentos de metal.
Símbolos, cores e oferendas de Nanã
O principal símbolo associado à iabá é o Ibiri, um bastão feito de folhas, palha da costa, cabaça e decorado com búzios. Desempenha um papel importante em rituais de purificação, sendo utilizado para afastar espíritos (eguns) e neutralizar energias negativas. O Ibiri, neste sentido, simboliza a força e autoridade de Nanã sobre a vida e a morte.
Além do ibiri, outros símbolos associados à Nanã são:
- Águas paradas
- Pântanos
- Lama
- Terra úmida
- Cedro
As cores de Nanã são o roxo, o lilás e o branco. Entre as oferendas dedicadas, destacam-se batata-doce, jabuticaba, ameixa e vinho.
Sincretismo, celebração e saudação
A veneração à deusa de origem subsaariana foi introduzida no Brasil por meio da diáspora africana. Ao longo da nossa história, as religiões afro-brasileiras enfrentaram perseguições e marginalização devido ao preconceito e à intolerância religiosa. No entanto, a resistência dessas religiões e de seus seguidores permitiu a preservação e expansão de suas tradições.
Nesse contexto, no Brasil, Nanã é sincretizada com Santa Ana, a avó de Jesus. Por isso mesmo, a iabá é celebrada pelas tradições religiosas afro-brasileiras no dia 26 de julho, data também dedicada à santa católica.
A iabá é saudada com a expressão "Salubá, Nanã!", que significa "Salve, Nanã!".
Características dos Filhos de Nanã
Os filhos de Nanã são pessoas sábias, pacientes e compassivas. Eles são ligados à natureza e à espiritualidade.
São aconselhados a evitar:
- Conflitos
- Violência
- Impulsividade
Bibliografia:
- AUGUSTO, Paulo; SOUTO, Cláudia. Sabedoria das Yabás. São Paulo: Rochaverá, 2018.
- PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
Veja também:
- Oxum: quem é, história e significado na Umbanda
- Iansã: quem é a deusa dos ventos das religiões afro-brasileiras
- Xangô
- Obaluaê (Omolu): história do Orixá da cura
- Obá: quem é a orixá das águas doces
- Oxalá
- Orixás: o que são e história na Umbanda e no Candomblé
- Ogum: quem é e o seu significado (na Umbanda, Candomblé e Sincretismo)
- Exu: quem é, características e significado na Umbanda
- Oxóssi: quem é e o que significa (Umbanda e Candomblé)