Vou-me embora pra Pasárgada (com análise e significado do poema)

Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

Vou-me embora pra Pasárgada é o título de um poema escrito por Manuel Bandeira (1886-1968), renomado poeta brasileiro do modernismo.

Publicado no livro Libertinagem, em 1930, o poema apresenta uma cidade idealizada como solução para os problemas.

Pasárgada significa, portanto, uma espécie de refúgio, um local maravilhoso - que só existe na imaginação do poeta - onde só há espaço para os prazeres da vida.

Veja o poema na íntegra:

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe - d’água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

- Manuel Bandeira

O poema possui características modernistas, ressaltando a ideia do poeta de uma fuga para um lugar melhor, como forma de escapar da sua realidade.

Ele foi escrito e construído com redondilhas, que remete a ideia de um escapismo muito comum em poemas arcadistas e românticos, que buscavam sempre uma forma de aliviar a dor do amor não correspondido ou uma inspiração em lugares distantes e campestres.

A fuga então mencionada no poema seria para Pasárgada, uma cidade tecnológica na imaginação de Bandeira. Com muitas referências ao modernismo e à admiração pelas máquinas e a tecnologia, o poema tem um pensamento bastante contrário ao pensamento arcadiano.

Pasárgada também faz referência à cidade persa que foi capital do Primeiro Império Persa, e que figurava na imaginação do poeta desde a sua adolescência até a construção deste poema.

A fuga para esta cidade é uma metáfora para a busca pela liberdade, para uma vida que poderia ter sido mais prazerosa, não fosse a tuberculose que acometia o poeta.

Nesta liberdade também estava o desejo de viver uma vida ativa que a doença o privou de ter. Em vários momentos da obra, é possível identificar um retorno à infância antes da doença se instalar.

Outro tema abordado é o afeto e contato físico, temas sensíveis para Manuel Bandeira.

Neste sentido, a fuga para Pasárgada também traria a possibilidade de viver aventuras amorosas e a satisfação dos desejos eróticos em um lugar onde não existe solidão.

Dessa forma, Pasárgada, essa incrível cidade imaginada, transcendeu a própria poesia e se tornou a representação de um lugar onde a vida é melhor, um símbolo de liberdade e hedonismo, que prega o prazer como estilo de vida.

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Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
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