Não deixe que a fofura te engane: a Ilha dos Coelhos esconde um passado terrível

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
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Okunoshima, também conhecida como a Ilha dos Coelhos, é uma pequena ilha japonesa, relativamente próxima de Hiroshima. Cerca de 100 000 turistas passam por lá, todos os anos, para visitar seus habitantes fofinhos e acabam descobrindo a história triste daquele lugar.

Fotografia da costa da Ilha dos Coelhos, no Japão.

Um passado de destruição

Há muitos anos, na época da Segunda Guerra Mundial, era lá que o Japão produzia e testava suas armas químicas. O país estava impedido, pelo Protocolo de Genebra, de criar e armazenar esse tipo de químicos.

Toda a operação ocorreu de forma secreta e a ilha foi escolhida por ser remota e estar longe das grandes metrópoles. O governo fez um trabalho tão bom em esconder as evidências que os habitantes e mesmo alguns funcionários não sabiam o que era produzido ali.

Os operários tinham que enfrentar condições de trabalho insalubres e muitos adoeceram pelo contato com as substâncias tóxicas, algo que foi encoberto por muito tempo.

O surgimento dos coelhos

Esse é um dos grandes mistérios: como os coelhos apareceram ali? Uma das teorias aponta que as cobaias dos gases venenosos eram - você adivinhou! - os pobres bichinhos. No entanto, há outras histórias sobre sua possível origem. Por exemplo, que teriam aparecido na década de 70, quando a ilha foi transformada num parque ou que foram deixados lá por alguém que visitou o território.

Vários coelhos castanhos, habitantes da Ilha dos Coelhos (Japão).

A verdade é que, com o final do conflito, a produção de armas parou e a ilha ficou entregue aos coelhos que, como sabemos, se reproduzem numa velocidade impressionante. Além disso, o local não tem predadores naturais que ameacem a sua existência.

Assim, ao longo dos anos, a população peluda foi aumentando exponencialmente (já são quase mil) e começou a atrair a atenção dos turistas, tornando-se um destino imperdível.

Um presente de contrastes

Atualmente, a ilha tem uma atmosfera única para quem ama animais: é praticamente um santuário onde os coelhos vivem soltos e bem tratados. Eles também estão acostumados com o contato humano e são bastante amigáveis, convivendo com os visitantes que podem brincar com eles, dar carinho e até alimentá-los.

Os turistas são encorajados a levar comida, como frutas e vegetais, para “mimar” os adoráveis coelhinhos, mas também existem alimentos proibidos. Além disso, para garantir a segurança, não podem levar cachorros e gatos.

Contudo, o turismo crescente também trouxe suas ameaças. Os visitantes acabam quebrando as regras da ilha, já que levam comida em excesso e deixam os restos ao ar livre. Esse fenômeno pode colocar em causa o bem-estar dos coelhos, porque começou a atrair corvos e outros predadores de regiões próximas.

Turistas alimentando os coelhos de Okunoshima.

Símbolos de paz, os animais criaram uma nova história para o local. No entanto, os registros de seu passado bélico continuam visíveis. Na década de 80, a operação militar foi revelada e começaram a surgir cada vez mais provas do que ocorreu ali.

Para que nunca sejam esquecidas (e para alertar sobre os perigos deste tipo de armas), foi criado o Museu do Gás Venenoso de Okunoshima, em 1988. Deste modo, após se deliciarem com a fofura dos coelhos, os visitantes podem aprender mais sobre tudo que aconteceu no local.

Também podem ser encontradas na ilha algumas ruínas de edifícios e instalações antigas, onde as operações militares tinham lugar, mas não são acessíveis à população devido à sua toxicidade.

Agora conta para nós: você ficou com vontade de conhecer Okunoshima ou prefere passar longe?

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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