Poema

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Poema é um gênero textual (forma de redação) escrito em versos e estrofes. É uma ferramenta de expressão artística e emocional. A palavra deriva do verbo grego poiéin, que significa "fazer, criar, compor".

Trata-se de um gênero bastante variável, seja em relação ao seu estilo, extensão ou temática. É possível, por exemplo, encontrarmos um haicai (de apenas três versos) sobre o salto de uma rã ou um poema épico com milhares de versos. O poema pode ter métrica e rima ou pode prescindir desses recursos estilísticos, assumindo a forma de verso livre, comum nos poemas modernistas.

O poema pode ser definido como um texto no qual a linguagem é explorada em suas mais variadas dimensões, dos seus aspectos sonoros aos visuais (caso da poesia concreta). No poema, mais do que em outros gêneros textuais, a linguagem vai além de sua função meramente comunicativa, transformando-se em objeto artístico por excelência.

Tipos de Poema

Na Grécia Antiga, todas as produções literárias — os gêneros épico, lírico e dramático — eram escritas na forma de poemas. Existem, portanto, três tipos de poemas:

Poema épico ou narrativos

Texto em verso que contam histórias. A Ilíada e a Odisseia, de Homero, são considerados os primeiros grandes textos épicos ocidentais.

Exemplo:

Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Troia;
muitas cidades dos homens viajou, conheceu seus costumes,
como no mar padeceu sofrimentos inúmeros na alma,
para que a vida salvasse e de seus companheiros a volta.
Os companheiros, porém, não salvou, muito embora o tentasse,
pois pereceram por culpa das próprias ações insensatas.
Loucos! que as vacas sagradas do Sol hiperiônio comeram.
Ele, por isso, do dia feliz os privou do retorno.
(Homero, "Odisseia")

Poema lírico

Assim designado por ser cantado ao som da lira (instrumento musical), expressa em versos a subjetividade de um eu-lírico.

Exemplo:

Comigo me desavim,
vejo-me em grande perigo,
não posso viver comigo,
nem posso fugir de mim.

Antes que este mal tivesse,
de outra gente fugia;
agora, já fugiria
de mim, se de mim pudesse.

Que cabo espero, ou que fim
deste cuidado que sigo,
pois trago a mim comigo,
tamanho inimigo de mim?
(Francisco Sá de Miranda, "Cantiga")

Poema dramático

Texto teatral em verso escrito para ser encenado. É o caso da tragédia Shakespeare, Hamlet, cujo trecho transcrevemos a seguir:

Exemplo:

Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais, herança do homem:
Morrer para dormir… é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
(William Shakespeare, "Hamlet")

Características e estrutura do poema

O poema se apresenta em forma de versos e estrofes:

  • Verso: unidade mínima de um poema, cada uma das linhas que o compõe.
  • Estrofe: conjunto de versos.

Existem algumas formas fixas de poemas, geralmente de origem clássica, determinadas pelo número de versos e estrofes que apresentam.

É o caso do soneto, modelo poético muito comum da literatura ocidental, composto por 14 versos distribuídos em quatro estrofes. As duas primeiras estrofes com quatro versos. As duas últimas, com três (dois quartetos e dois tercetos).

Como exemplo, apresentamos o famoso "Soneto do amor total", de Vinícius de Moraes:

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
(Vinícius de Moraes, "Soneto do amor total")

Classificação das Estrofes

As estrofes são classificadas segundo o número de versos:

  • Monóstico: um verso.
  • Dístico ou Parelha: dois versos.
  • Terceto ou Trístico: três versos.
  • Quarteto ou Quadra: quatro versos.
  • Quintilha, Quinteto ou Pentástico: cinco versos.
  • Sextilha, Sexteto ou Hexástico: seis versos.
  • Septilha, Hepteto, Heptástico, Sétima ou Septena: sete versos.
  • Oitava ou Octástico: oito versos.
  • Nona: nove versos.
  • Décima ou Década: dez versos.

Rima

Rima é a repetição de um som que ocorre em intervalos regulares no poema. Ou seja, é a coincidência de som entre as palavras dos versos.

Pode ocorrer rima tanto no final dos versos (externa), como em seu interior (interna). Veja o seguinte poema, de Beré Lucas:

Borboleta dourada
Descuidada
da lida
vive breve
na leve vida

As rimas entre "dourada"/"descuidada" e "lida"/"vida" ocorrem com as palavras de final de verso (externas), mas a rima "breve"/"leve" ocorre entre uma palavra que está no quarto verso e outra que se localiza no interior do último (interna).

As rimas também são classificadas quanto às classes gramaticais. Se pertencerem à mesma classe gramatical, são chamadas pobres. Se forem de classes diferentes, são ricas. No poema de Mário Faustino a seguir, encontramos alguns exemplos de rimas pobres e ricas:

Necessito de um ser, de seu abraço (substantivo)
Escuro e palpitante (adjetivo)
Necessito de um ser dormente e lasso (adjetivo)
Contra meu ser arfante.” (adjetivo)

Outra forma de classificação das rimas é quanto à semelhança de seus sons. Se as palavras têm o mesmo som a partir da vogal tônica, são chamadas de consoantes:

Senhora, nos meus cantares
Sereis tão leve, tão pura,
Que, em vosso agrado, cantiga
Se morrerá de ternura
(João Paes Loureiro, "Cantiga")

Quando as palavras têm o mesmo som na vogal tônica e coincidência sonora nenhuma, ou parcial, depois dela, são denominadas toantes:

Senhora de minha vida
Estou tão triste. Senhora,
Que morro nesta cantiga
Que vivo cantando agora.
(João Paes Loureiro, "Cantiga")

Quanto à disposição na estrofe, as rimas podem ser classificadas em alternadas, opostas ou paralelas.

As rimas alternadas ocorrem quando um verso rima com outro após passar outro verso:

Esse estoque de amor que acumulei (A)
Ninguém veio comprar a preço justo (B)
Preparei meu castelo para um rei (A)
Que mal me olhou, passando, e a quanto custo. (B)
(Mário Faustino, "O homem e sua hora")

Opostas são rimas que acontecem quando um verso rima com o outro após dois outros. Já as paralelasocorrem quando um verso rima com outro que lhe vem logo a seguir:

Se teu amor te esqueceu (A)
Não o chames com uma lembrança (B)
Será baldada a esperança... (B)
Não volta mais quem morreu. (A)
(Antônio Tavernard)

Neste poema de Antônio Tavernard, as rimas "A" são opostas, enquanto as "B", paralelas.

Métrica

Métrica é quantidade de sílabas poéticas dos versos, contadas a partir da escansão. Os versos são classificados segundo a quantidade sílabas poéticas:

  • Monossílabo: uma sílaba poética.

  • Dissílabo: duas sílabas poéticas.
  • Trissílabo: três sílabas poéticas.
  • Tetrassílabo: quatro sílabas poéticas.
  • Pentassílabo ou redondilha menor: cinco sílabas poéticas.
  • Hexassílabo: seis sílabas poéticas.
  • Heptassílabo ou redondilha maior: sete sílabas poéticas.
  • Octossílabo: oito sílabas poéticas.
  • Eneassílabo: nove sílabas poéticas.
  • Decassílabos: dez sílabas poéticas.
  • Hendecassílabos: onze sílabas poéticas.
  • Dodecassílabos ou alexandrino: doze sílabas poéticas.

A escansão é uma forma específica de divisão silábica, diferindo bastante da convencional. A contagem, por exemplo, só vai até a sílaba tônica da última palavra do verso. Quando uma palavra termina em vogal e a outra que seguir começar por vogal, juntam-se as sílabas, como se fossem uma só. Não se juntam as sílabas se a vogal final da primeira palavra for tônica aberta ou se a primeira palavra terminar por ditongo.

Vejamos o primeiro verso de Os Lusíadas, de Camões:

"As armas e os barões assinalados"

Pela contagem de sílabas tradicional, o verso teria 12 versos. Pela escansão, no entanto, o verso possui 10 sílabas poéticas:

"As/ ar/ mas/ eos/ ba/ rões/ as/ si/ na/ lados"

O poema épico de Camões é composto por 8816 versos decassílabos.

Versos livres e brancos

Para um texto poder ser chamado de poema, entretanto, ele não precisa conter, necessariamente, rimas e métrica. É possível escrever poemas sem rima (versos brancos) ou sem métrica (versos livres).

Musicalidade

Uma característica importante do poema é a sua musicalidade. Aliterações, assonâncias e rimas são recursos responsáveis por conferir ao poema um ritmo de repetição bastante característico.

Linguagem Figurada

O uso de figuras de palavra, como metáforas e sinestesias, também é bastante frequente nos poemas. A utilização da linguagem figurada faz com que as palavras ganhem novos significados, novas possibilidades de combinação.

Origem e história do poema

A origem do poema remonta a tempos ancestrais, quando a linguagem humana começou a evoluir além da mera comunicação funcional para compartilhar histórias, lendas, mitos e reflexões sobre a vida e o mundo que as cercam.

As primeiras manifestações poéticas são, portanto, anteriores à escrita, transmitidas de geração em geração através da tradição oral. Esses primeiros poemas muitas vezes eram acompanhados por música, ritmo e gestos, tornando-se uma forma de entretenimento e educação nas comunidades.

Depois da invenção da escrita, os três gêneros literários (épico, lírico e dramático) eram escritos em versos.

Com o passar dos séculos, entretanto, a narrativa em prosa foi gradualmente ganhando relevância, levando o poema a se tornar mais associado ao gênero lírico.

Diferença entre poema e poesia

O poema é uma forma específica de expressão literária, escrita em verso. É uma composição que segue uma estrutura e um formato particular, seja em termos de métrica, rima, estrofes ou outros elementos formais.

A poesia, por seu turno, é um conceito mais amplo e abstrato. Na linguagem dos gregos antigos, poesia queria dizer criação (poiesis). Atualmente, em literatura, poesia é a beleza concentrada que pode ser localizada em alguma coisa: em uma paisagem, em uma pintura, em uma melodia, etc.

Essa beleza concentrada, portanto, pode existir tanto em um texto em prosa como em um texto em versos (poema). O que faz um texto possuir poesia são diversos recursos, tais como: a conotação, a rima, as figuras de linguagem, etc.

Veja este exemplo de poesia na forma da prosa (prosa poética) retirado de um texto de Rubem Braga:

Essas Amendoeiras
Essas amendoeiras são umas árvores desentoadas. Agosto já chegou, e toda gente sabe que é tempo de folhas novas. Foi o primeiro sopro de noroeste do fim de inverno que as executou com essa ordem, e elas obedecem. Mas não como arvores direitas de uma cidade organizada; obedecem como se fossem meninas teimosas. Estão cansadas de saber que devem se arrumar para beber bem as chuvas que já tardam: que o sol cada semana ficará mais quente, e que será um escândalo se as cigarras chegarem uma bela tarde e virem isso. Que zoeira não farão as cigarras! Começarão a zunir críticas tão alto que chegarão até aos ouvidos do general-prefeito. Ele então descerá de seu gabinete e...
Até o mais ignorante mamoeiro de subúrbio sabe o que aconteceu com a mãe geral das amendoeiras, na curva do Flamengo. Sei que todas as amendoeiras da minha rua sentiram isso e tiveram medo. Vi quando as podaram: ficaram quietinhas, paradas, apenas ligeiramente trêmulas, como meninas a que vão cortar as tranças, mas também podem resolver cortar o pescoço.

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Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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