Preconceito Linguístico

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Preconceito linguístico é a discriminação entre os falantes de um mesmo idioma. Ocorre quando há desrespeito pelas diferentes formas de expressão de uma língua, escrita ou falada, chamadas variações linguísticas.

Variações linguísticas são os sotaques, regionalismos, dialetos, gírias e outras diferenças de fala. Outras características, como etnia e gênero, também podem influenciar o modo de falar.

A língua é dinâmica e está em constante desenvolvimento. Por isso, ela se adapta aos seus falantes e às novas realidades, cumprindo seu papel de garantir a comunicação. Todos os idiomas possuem variações linguísticas.

A expressão "preconceito linguístico" foi criada na década de 1980 pela linguista finlandesa Tove Skutnabb-Kangas, que pesquisou a discriminação da linguagem usada por grupos minoritários.

Para ela, o preconceito começa quando uma linguagem diferente causa estranheza, e esse estranhamento preconceituoso cria relações de poder entre as pessoas (mais poder para quem usa linguagem formal e menos poder para quem não usa).

Exemplos de preconceito linguístico

  • Rir de alguém pelo sotaque.
  • Considerar o português falado em Portugal mais correto que do Brasil.
  • Debochar de gírias antigas.
  • Corrigir a pronúncia “errada”.
  • Julgar linguagem antiga como mais correta.
  • Discriminar a linguagem abreviada utilizada na internet.

Veja este exemplo de preconceito linguístico no poema Vícios na fala, de Oswald de Andrade:

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

Nesse poema, o autor mostra alguns exemplos que comparam a gramática formal e a fala popular de algumas palavras. Mesmo que essas palavras não sejam consideradas corretas do ponto de vista da gramatical, não devem ser consideradas erradas, por serem uma variante linguística brasileira.

O preconceito linguístico no Brasil

O Brasil é um país imenso e culturalmente diverso, o que se reflete nas diferentes formas de falar em cada região. Essas variações linguísticas muitas vezes são alvo de preconceito quando comparadas às regras gramaticais. O preconceito surge da comparação entre a gramática e a língua falada, que varia conforme a idade, nível educacional, região, gênero, condição social ou etnia do falante.

Este preconceito ocorre, por exemplo, com as pessoas que vivem em regiões do interior, ao serem alvo de piadas devido à forma como falam.

Quando se fala em expressões regionais, uso de gírias e outras variações linguísticas, não é correto dizer que existe um modo "certo" e outro "errado" de se expressar.

A gramática normativa é importante para manter a ordem da Língua Portuguesa, mas é necessário considerar que a língua está sempre mudando conforme a evolução social, histórica e regional.

O linguista brasileiro Marcos Bagno publicou o livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. Na obra, ele defende que as variedades linguísticas do Brasil devem ser valorizadas , pois fazem parte da identidade e da cultura do povo brasileiro.

Na literatura brasileira, o modernismo (especialmente em sua primeira fase) valorizou as variações linguísticas. Muitas obras literárias dessa época destacaram as diferenças regionais da língua como parte essencial da identidade do povo brasileiro.

Veja o poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira:

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo

Nesse trecho do poema, o escritor exalta a linguagem popular. Ele afirma que a linguagem do povo é a “língua certa”, para mostrar que as formas de expressão populares também são corretas.

Exemplos de preconceito linguístico no Brasil

  • Debochar dos sotaques regionais.
  • Afirmar que uma pessoa fala “errado” porque não segue as regras da gramática.
  • Julgar que é mais certo falar “você” ao invés de “tu”.
  • Ridicularizar os nomes diferentes que as coisas têm em cada região.

Causa do preconceito linguístico

O preconceito linguístico surge da crença de que existe apenas uma forma correta de se expressar. Isso acontece porque a gramática normativa, que estabelece as regras do idioma, é utilizada como único padrão de linguagem correta.

No entanto, a gramática não engloba expressões populares, gírias e regionalismos, que, mesmo estando fora dela, não devem ser considerados errados.

A ideia de uma única forma correta de expressão leva à desvalorização de todas as outras formas. Como resultado, pessoas ou grupos que não seguem as regras formais podem ser alvos de preconceito linguístico.

Consequências do preconceito linguístico

O preconceito linguístico resulta na exclusão social daqueles que se expressam de forma regional, informal ou por meio de dialetos. Isso pode levar ao medo de falar em público, prejudicar a autoestima e dificultar a obtenção de emprego, por exemplo.

É importante combater essa discriminação, valorizando a diversidade linguística e reconhecendo que todas as formas de expressão são válidas, contribuindo, assim, para uma sociedade mais inclusiva e justa.

Bibliografia:

  • BAGNO, Marcos.Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
  • SKUTNABB-KANGAS, Tove. Linguistic Genocide in Education: or Worldwide Diversity and Human Rights? Abingdon: Routledge, 2013.

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Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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