O que é Naturalismo

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Naturalismo é um movimento artístico-cultural desenvolvido na segunda metade do século XIX com expressões no teatro, na pintura e, principalmente, na literatura.

É considerado uma ramificação radical do Realismo. É caracterizado por incorporar e experimentar na arte teorias científicas da época, como evolucionismo de Charles Darwin, o determinismo de Hippolyte Taine e o positivismo de Auguste Comte.

Surgiu na França, em 1867, com a publicação do romance Thérèse Raquin. Émile Zola (1840 – 1902), autor do livro, em seu prefácio lançou as bases do que viria ser o Naturalismo:

Em 'Thérèse Raquin', eu quis estudar alguns temperamentos. Eis aí todo o livro. Escolhi personagens soberanamente dominados por seus nervos e sangue, desprovidos de livre-arbítrio, levados a cada ato de suas vidas pelas fatalidades da carne. Thérèse e Laurent são humanos brutos, nada mais. [...] Começamos, espero, a compreender que meu objetivo foi científico.

Zola, o maior expoente do Naturalismo, criou, assim, o romance experimental. Em outras palavras, uma narrativa que analisasse o comportamento humano objetivamente, despida de crítica moral, cientificamente.

A arte, segundo o romancista, deveria ser um instrumento da ciência; e cada obra, um estudo de caso.

Contexto histórico

Na segunda metade do século XIX ocorreram transformações significativas em praticamente todos os campos de atuação humana.

É quando ocorre a Segunda Revolução Industrial, promovida por avanços técnico-científicos nas áreas da mecânica, combustíveis e eletricidade, que mudaram para sempre nosso modo de vida.

Com a Segunda Revolução Industrial veio o êxodo rural e, consequentemente, o aumento da população das cidades, a urbanização, fenômeno perceptível ainda hoje.

Outro desdobramento da industrialização foi a ascensão do "capitalismo selvagem". Numa época ainda sem direitos que protegessem os trabalhadores da ganância "selvagem" do patronato, a exploração da mão de obra era recorrente.

As condições de trabalho eram desumanas, com jornadas diárias de até 16 horas e salários miseráveis. Até crianças eram e exploradas, e por salários ainda menores que os dos adultos.

É a época do surgimento de diversas correntes de pensamento cientificista:

  • Auguste Comte trouxe o positivismo, corrente filosófica que ganhou seguidores no mundo todo, inclusive tendo o seu lema, "ordem e progresso", estampado na bandeira nacional.
  • Marx e Engels, com o livro Manifesto Comunista, apresentaram ao mundo o socialismo.
  • A origem das espécies, de Charles Darwin, trouxe à luz a teoria da evolução e a seleção natural, processo muito caro aos naturalistas, que a acreditavam que a hereditariedade seria um fator determinante na vida das pessoas.

Características do Naturalismo

  • Antirromantismo: Objetivismo, impessoalidade e busca pela verossimilhança são traços naturalistas que evidenciam sua oposição à idealização romântica.
  • Cientificismo: Arte vinculada às novas teorias científicas europeias (evolucionismo, positivismo, socialismo, medicina experimental). Vem daí a criação de Zola, o romance experimental.
  • Determinismo: A análise psicológica característica do Realismo é substituída pelo determinismo taineano. Deste modo, as personagens deixam de ser "esféricas", dotadas de profundidade psicológica, para se tornarem bidimensionais, fantoches de condicionantes raciais e sociais que determinam seus destinos — "O homem é produto do meio, da raça e do momento histórico em que vive".
  • Personagens patológicos. Para provarem suas teses, os escritores naturalistas muitas vezes apresentam protagonistas doentios, criminosos, bêbados, histéricos, maníacos. Pela primeira vez, membros de grupos discriminados (homossexuais, negros, mestiços, etc.) se tornaram protagonistas — mas não foram, necessariamente, retratados de maneira positiva.

Naturalismo no Brasil

A historiografia tradicional costuma apontar a publicação de O Mulato, de 1881, do romancista maranhense Aluísio Azevedo como marco inicial do Naturalismo nacional.

No entanto, hoje sabemos que o estilo chegou ao Brasil, de fato, quatro anos antes, com a edição do romance O coronel sangrado (1877), do escritor paraense Inglês de Sousa.

Percebe-se, com isto, que houve um pequeno intervalo relativamente curto entre o surgimento do Naturalismo na França e a sua transposição para o Brasil (apenas dez anos).

No final do século XIX, a elite brasileira mantinha estreita ligação com a Europa. Consideravam o Velho Continente como modelo civilizatório, de onde copiavam os modismos, inclusive estéticos. Essa postura de submissão às metrópoles europeias demonstra a permanência de traços coloniais ainda presentes na sociedade brasileira.

O Brasil, à época, vivia os estertores do segundo reinado e da escravidão. Ideias abolicionistas e positivistas, então pensamentos considerados progressistas, grassavam nos círculos intelectuais. Não demoraria muito para que essas ideias ganhassem corpo e chegassem à concretização, com a Abolição da escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889).

Principais autores e obras

  • Aluízio Azevedo (1857 – 1913): O mulato (1881), O cortiço (1890).
  • Inglês de Sousa (1853 – 1918): Coronel sangrado (1877), O missionário (1891), Contos amazônicos (1893).
  • Adolfo Caminha (1867 – 1897): Bom-Crioulo (1895).
  • Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934): A falência (1891).
  • Júlio Ribeiro (1845 – 189): A carne (1888).

O Cortiço, de Aluísio Azevedo

azevedo

O cortiço (1990), romance também de autoria de Aluísio Azevedo, é a obra mais conhecida do Naturalismo brasileiro. No século XX, foi leitura obrigatória em diversos vestibulares e chegou a ser adaptado para o cinema, em 1978.

Nele, o autor descreve o cotidiano de pessoas empobrecidas, a maioria negros, mestiços e imigrantes, num ajuntamento de moradias improvisadas, no Rio de Janeiro. Antes de surgirem as favelas, os cortiços costumavam ser a habitação das classes desprivilegiadas nos centros urbanos brasileiros.

Apesar dos excessos deterministas com que descreve as personagens (ressaltando, muitas vezes, seu caráter animalesco), Azevedo acaba por construir um retrato bastante verossímil da sociedade brasileira da época.

Segundo o crítico Antônio Bosi, O cortiço teria as personagens mais convincentes do estilo no país:

[...] Só em O Cortiço Aluísio atinou de fato com a fórmula que se ajustava ao seu talento: desistindo de montar um enredo em função de pessoas, ateve-se à sequência de descrições muito precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço, a personagem mais convincente do nosso romance naturalista. Existe o quadro: dele derivam as figuras. [...]

Bibliografia:

  • BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira, 50ª ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
  • GUINSBURG, J.; FARIA, João Roberto (org.). O Naturalismo. São Paulo: Perspectiva, 2020.

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Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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