Budismo: símbolos, ensinamentos e características da religião budista
Budismo é uma religião e filosofia orientais, fundada na Índia, em VI a.C., por Siddhartha Gautama, o Buda (“o desperto” ou “o iluminado” em sânscrito).
A filosofia budista é guiada pelos ensinamentos de Buda, que conduzem o indivíduo a uma felicidade plena, através das práticas meditativas, do controle da mente e da autoanálise de suas ações diárias.
O budismo é reconhecido como uma filosofia de vida, porque os ensinamentos de Buda são focados na razão e na análise individual de cada ser humano.
Os budistas acreditam que a consciência física e espiritual leva à iluminação e elevação, o chamado nirvana.
Nirvana é o estado mais alto da meditação. Segundo Buda, é quando o indivíduo encontra a paz e a tranquilidade, cessando as oscilações dos pensamentos e das emoções, se livrando do sofrimento do mundo físico.
Atualmente está entre as 10 maiores religiões do mundo, com milhões de praticantes no Oriente e no Ocidente. Uma de suas maiores características é o ateísmo, ou seja, o budismo não crê em um deus ou qualquer outro ser supremo.
As principais crenças do Budismo são:
- O caminho para a libertação do sofrimento do indivíduo está na autoconsciência, nas práticas meditativas e em fazer o bem a si e ao outro;
- O budismo também acredita no ciclo da encarnação e reencarnação, o chamado Samsara.
- A filosofia aplica a lei do Karma, pregando que todas as ações geram consequências boas ou ruins para esta e outras reencarnações;
- Ensina que o indivíduo é capaz de desconstruir as raízes e as causas do seu sofrimento ao controlar sua mente, entendendo que nada na vida é fixo ou permanente, alcançando a felicidade plena;
- E o principal objetivo da doutrina é fazer com que cada um de seus seguidores encontre “o despertar” através do Nirvana, como Buda alcançou.
A doutrina budista é dividida em duas escolas budistas principais:
- Theravada, a escola budista tradicional e mais antiga,
- e Mahayana, criada por leigos e pessoas comuns e da qual faz parte o Budismo Tibetano, o Zen, o Budismo Terra Pura, entre outras linhas.
A base de todas as linhas budistas são as chamadas Três Joias, conhecidas também como Três Tesouros ou Três Refúgios, considerados os 3 bens mais valiosos da religião:
- Buda (O iluminado): todas reconhecem Buda como o Grande Mestre, aquele que proporcionou os ensinamentos para a libertação da mente e do sofrimento;
- Dharma (os ensinamentos de Buda): qualquer vertente budista segue todos os ensinamentos de Buda, mesmo que os interprete de maneiras distintas;
- Sangha (a comunidade): é o corpo que forma a comunidade budista, ou seja, os monges e monjas e seus seguidores.
Esta base dá as forças necessárias para aceitar aquilo que não pode ser mudado e encontra a energia para agir naquilo que pode ser ajustado.
Origem e história do budismo
A história do Budismo inicia através de Siddhartha Gautama. Um príncipe do clã Shakya, que nasceu e cresceu no luxo de seu palácio, no século VI a.C., no sul do Nepal, na Índia.
O raja Suddhodana, pai de Siddhartha, protegeu o filho do mundo exterior, para que ele não convivesse com as aflições humanas, como a fome, a morte, as doenças e as injustiças sociais.
Porém, aos seus 29 anos, o então príncipe saiu de seu castelo, fugido do seu pai, e conheceu o sofrimento humano de perto.
Naquela mesma noite, decidiu renunciar sua vida luxuosa e o trono, com o objetivo de descobrir uma maneira de aliviar o sofrimento humano.
Nos primeiros 6 anos de sua peregrinação, ele acompanhou alguns mestres espirituais da época, os ascetas. Através das práticas dessa filosofia, Siddhartha experienciou a renúncia do prazer e a mortificação, um tipo de auto penitência física severa, como longos jejuns.
Sem resultados para o seu objetivo de acabar com o sofrimento da humanidade, Siddhartha abandonou a vida asceta.
Aos seus 35 anos, sentado em profunda meditação, Siddhartha alcançou o nirvana. Esse é o estado mais alto da meditação, quando o indivíduo encontra a paz, ao desconstruir as causas do seu próprio sofrimento, se libertando das aflições físicas e emocionais do mundo físico.
Assim, Siddhartha tornou-se Buda (ou Shakyamuni Buda, devido ao seu clã Shakya), o iluminado, deixando claro que qualquer outro ser humano poderia se tornar buda ao atingir este mesmo estágio.
Foi então que, mesmo sendo acusado por seus seguidores e mestres da época, ele escolheu “o caminho do meio”. Este caminho é definido por ele como aquele que leva o indivíduo à libertação, sem qualquer tipo de extremismo religioso ou físico, o que conhecemos hoje como o Budismo.
Depois de encontrar o caminho, ele passou a proferir sua palavra para os outros monges, que se tornaram seus discípulos, propagando seus ensinamentos.
Saiba mais sobre o Buda.
Características do budismo
O budismo possui características que o diferencia de muitas outras religiões, até mesmo as do Oriente, de onde nasceu. As principais são:
- É uma religião e filosofia ateísta, que não acredita em um deus supremo ou qualquer outra divindade;
- É considerada uma filosofia porque os Ensinamentos de Buda são voltados para análise individual e razão de cada indivíduo;
- O budismo acredita que qualquer ser humano é capaz de alcançar a iluminação através do Nirvana e, assim, se tornar Buda;
- Buda dizia que seus ensinamentos (o Dharma) estão disponíveis para qualquer pessoa, sem exclusão de etnia, raça, classe social ou qualquer outro motivo;
- O budismo utiliza a meditação como forma de autoconhecimento. Sendo assim, quando o indivíduo conhece a si mesmo, passa a enxergar a vida e as pessoas de outra forma, entendendo as raízes do seu sofrimento e suas práticas nocivas a ele mesmo e ao outro;
- A filosofia budista não condena ter bens materiais e riquezas. Mas diz que o sofrimento está no apego a esses bens e a vontade insaciável de querer além do que já possui;
- No budismo, a prática do bem é importante devido ao conceito do Karma, onde Buda dizia que toda ação gera uma karma para esta e outras vidas;
- Diferente como muitos pensam, a yoga não é uma prática budista. A atividade foi sendo inserida no budismo devido à aproximação da religião com o Hinduísmo, que adota a prática;
Entenda mais sobre o Nirvana.
Os principais ensinamentos do budismo
O ensinamento principal do budismo é instruir o homem ao desejo de, em qualquer circunstância, fazer o bem e não o mal.
Porém, os ensinamentos de Buda (Dharma) são muito mais profundos e têm por objetivo ajudar aos seus seguidores a alcançar a plenitude da vida real através das 4 Nobres Verdades. São elas:
- A insatisfação existe (Nobre Verdade do Sofrimento)
- Há causas que geram a insatisfação (Nobre Verdade da Causa do Sofrimento)
- A insatisfação pode ser resolvida (A Verdade da Extinção do Sofrimento)
- O caminho Óctuplo de Buda - a solução prática para a insatisfação
Na quarta verdade, conhecida como o Caminho Nobre de Oito Aspectos ou Roda do Dharma, Buda fala sobre as práticas diárias a morte do ego e do apego que são as causas do sofrimento humano.
Buda construiu uma jornada que, segundo ele, ao ser praticada pelo indivíduo, cessa a insatisfação e sofrimento.
- Compreensão correta: para Buda, devemos enxergar tudo à nossa volta como um grande sistema, em que dependemos uns dos outros, para assim alcançar a harmonia e a compreensão de que nada nem ninguém é fixo;
- Aspiração correta: Buda ensina que todo indivíduo deve questionar se o que você faz é fruto do ego e se essas ações afetam negativamente outras pessoas;
- A fala correta: para o budismo, tudo o que é dito constitui o ser, por isso, todo indivíduo deve ser cauteloso com o que externaliza para o outro através da fala;
- A ação correta: para Buda, qualquer ação não pode ser prejudicial para outra pessoa, nem mesmo que de forma indireta;
- O meio de vida correto: Buda ensina que o trabalho de qualquer indivíduo deve ser sempre um meio de ajudar a si mesmo e outras pessoas e nunca prejudicar;
- O esforço correto: este ponto fala principalmente sobre largar atitudes nocivas que remetem a negatividade, como vícios, por exemplo;
- Atenção correta: um dos pontos principais do budismo é estar consciente de todas as ações do corpo e da mente. Também é chamada de atenção plena e significa estar vivendo o presente, o agora, em qualquer ação do dia a dia;
- Concentração correta ou meditação contemplativa: através desta meditação, segundo Buda, é possível chegar a gratidão e a contemplação da sua própria existência, de maneira real e consciente.
Para o budismo, estes ensinamentos são alcançados através de uma única prática: a meditação.
Neste caso, as práticas meditativas têm por objetivo atingir o nirvana. Assim, o indivíduo se torna Buda, um ser desperto de sua própria existência, sem apego às atitudes ou circunstâncias do ego, praticando o bem a si mesmo e ao outro.
Significado dos Símbolos do Budismo
Os oito símbolos esperançosos do budismo tiveram origem ainda na Índia e estão presentes até os dias atuais nos mosteiros e escolas budistas, principalmente as tibetanas. São eles:
A Roda do Dharma
A Roda do Dharma é a representação do caminho Óctuplo que Buda ensinou após se tornar um ser iluminado.
Os 8 raios da roda sinalizam os oito ensinamentos de Buda: Compreensão Correta, Aspiração Correta, Fala Correta, A Ação Correta, O Meio de Vida Correto, o Esforço Correto, a Atenção Correta e a Meditação Contemplativa.
O Nó Infinito
O Nó Infinito simboliza que tudo está interligado e possui uma causa e um efeito. É também o símbolo do conhecimento infinito de Buda, explicando que sua sabedoria e compaixão estão interligadas.
Guarda Sol
O Guarda Sol simboliza a proteção do sofrimento. A cobertura colorida simboliza a sabedoria e a cúpula de proteção representa a compaixão.
A Flor de Lótus
A Flor de Lótus é um dos maiores símbolos do budismo. É um tipo de flor que nasce na lama e se abre quando é exposta ao sol.
Para o budismo, a flor de lótus representa o ser humano, que tem suas raízes em sofrimentos e insatisfações (caule), mas que pode alcançar a iluminação (a flor).
Veja mais sobre o significado Flor de Lótus.
A Concha
A Concha simboliza o som do Dharma, os Ensinamentos de Buda.
Peixes Dourados
Os peixes dourados representam a capacidade do indivíduo de ser livre, sem medo de mergulhar no seu sofrimento para entender suas raízes. Além disso, também representam os rios Ganges e Yamuna, que são sagrados na Índia.
O Vaso
O Vaso é o símbolo da abundância e representa o conhecimento espiritual de Buda, que é infinito e abundante.
A Bandeira da Vitória
A Bandeira da Vitória simboliza a conquista da sabedoria de Buda sobre a ignorância. A bandeira da vitória foi usada por Buda como sinal da vitória sobre os impedimentos espirituais para a iluminação, ou seja, as circunstâncias da vida, sejam físicas ou espirituais, que possam impedir o ser humano de progredir espiritualmente.
Tipos de Budismo
Após a morte de Buda, duas escolas budistas chamadas Theravada e Mahayana foram criadas para representar seus ensinamentos. Porém, elas se diferenciavam nas interpretações sobre os ensinamentos de Buda (Dharma), e se dividiram ao longo do tempo.
Vale lembrar que todas as vertentes budistas seguem os ensinamentos de Buda e aceitam as 4 Nobres Verdades como base para seus seguidores. Mas, praticam e acreditam de maneiras diferentes para alcançar a iluminação.
Theravada: a vertente ortodoxa e mais antiga do budismo
A escola Theravada foi criada logo após a morte de Buda e domina o sudeste da Ásia, em países como o Camboja e a Tailândia.
Esta vertente segue as tradições ortodoxas que prevaleceram na Índia há 2.600 anos, se baseando nas escrituras do Tipitaka, que foram os ensinamentos recitados oralmente por Buda. Eles acreditam que, ao seguirem esses escritos, alcançarão a iluminação através de um esforço individual.
Um forte aspecto dessa escola é que acreditam que somente os monges anciãos possuem a autoridade para transmitir estes ensinamentos e que devem ser respeitados e ouvidos.
Mahayana: a escola budista criado por leigos
A escola Mahayana foi criada por pessoas leigas e comuns que acreditavam em dois pontos principais: o poder da compaixão e que cada indivíduo carrega dentro de si o potencial para o estado Buda.
Diferente dos Theravadas, os Mahayanas acreditam que os seguidores podem buscar a iluminação através de outros seres superiores, os chamados bodhisattvas.
Eles são seres humanos que estão prestes a atingir o seu estado iluminado, mas adiam essa iluminação para ajudar outros seres.
Ela foi implementada no norte da Ásia e foi através desta escola que surgiram tradições importantes como o Zen Budismo, Budismo Tibetano, Budismo Terra Pura e Budismo Tântrico.
Outras vertentes budistas
Existem outras diferentes vertentes do Budismo, construídas ao longo do tempo. Por exemplo, o Budismo Nitiren ou Budismo de Nitiren tem como fundamento os ensinamentos de Nitiren, um monge japonês que viveu no século XIII.
O Budismo Kadampa, outra linhagem de pensamento budista, foi uma escola criada pelo mestre budista indiano Atisha.
O Budismo Tibetano, também chamado de Lamaísmo, é uma prática com forte presença no Brasil, sendo o líder Tenzin Gyatso, o Dalai Lama, sua figura mais representativa.
Veja mais sobre o Budismo Tibetano.
Diferença entre Budismo e Hinduísmo
O Budismo e o Hinduísmo são duas tradições religiosas e filosóficas que surgiram na região da Índia. As duas apresentam muitas semelhanças nas crenças, como os conceitos de dharma, karma e samsara.
No entanto, as principais diferenças se dão no terreno das práticas. No hinduísmo existe a busca da consciência em Deus e consequente adoração das divindades como caminho da salvação, o que é muito diferente da busca pela iluminação espiritual budista.
Entre as práticas do hinduísmo está a divisão da sociedade hindu pelo sistema de castas, o que diverge do conceito de igualdade entre os seres defendido pelos budistas. O Hinduísmo seria anterior ao Budismo, tendo já mais de quatro mil anos.
Leia mais sobre o Hinduísmo.
Budismo no Brasil
O Budismo foi introduzido no Brasil no começo do século XX. No dia 18 de Junho de 1908, chegava ao Brasil Tomojiro Ibaragui, mais conhecido como Ibaragui Nissui, o primeiro monge budista do Brasil.
A filosofia é difundida desde então em todo o país, muito em função pela grande imigração japonesa, que tem como religião principal o budismo. Os principais templos budistas do Brasil estão localizados em Três Coroas (RS), e o Templo Zu Lai em Cotia (SP).
Veja também: