Comunismo

Juliana Bezerra
Revisão por Juliana Bezerra
Professora de História

Comunismo é uma doutrina social cujo objetivo é restabelecer o que se chama "estado natural", em que todas as pessoas teriam o mesmo direito a tudo, mediante a abolição da propriedade privada e o fim da luta de classes. Nos séculos XIX e XX o termo foi usado para qualificar um movimento político.

Esta palavra tem origem no latim comunis, que significa comum. Ser comunista significa compactuar com as ideias de Karl Marx e Friedrich Engels e defender as mudanças políticas, econômicas e sociais necessárias à superação da sociedade capitalista por uma sociedade sem classes.

Principais características do comunismo

São as principais características da doutrina comunista:

  • coletivização dos meios de produção;
  • o resultado do que é produzido é dividido entre todos os membros da sociedade;
  • a produção deve ser apenas o suficiente para a manutenção da sociedade;
  • não existe o conceito de propriedade privada;
  • abolição do Estado e das fronteiras nacionais (o comunismo é internacionalista).

Saiba mais sobre as características do comunismo.

Como o comunismo surgiu?

O comunismo tem a sua fundamentação nas teorias do Estado dos sofistas gregos e na obra "A República" de Platão. A Grécia-Antiga previa a formação de uma sociedade em que as classes sociais não existiriam. Mas essa ideia encontrou bem cedo críticos severos, como Aristóteles.

O comunismo continuou a se fazer sentir em muitos movimentos depois disso, como é o caso de Thomas Münzer e dos anabatistas, em seitas puritanas da América do Norte nos séculos XVII e XVIII.

É nesse período, especificamente no século XVIII, que inicia-se o Iluminismo. Apesar de ser um movimento intelectual protagonizado e organizado pela burguesia, deu continuidade as críticas à propriedade privada, através de autores e pensadores como Jean-Jacques Rousseau, na França.

A grande reanimação do comunismo ou do socialismo, no princípio do século XIX, está relacionada com a Revolução Industrial.

Os abusos do capitalismo e do liberalismo econômico, cometidos pela transformação da economia e da indústria, provocaram um movimento crítico dos trabalhadores que, em muitos casos, se relaciona com as ideias comunistas.

Esse movimento operário dá origem a uma série de organizações, dentre elas a que vai culminar na Comuna de Paris, em 1871, a primeira experiência de revolução proletária da história.

Símbolos do comunismo

comunismo

A foice, o martelo e a estrela de cinco pontas são símbolos do comunismo, usados universalmente. A foice representa os trabalhadores do campo e o martelo os trabalhadores das indústrias.

A estrela de cinco pontas pode representar os cinco continentes do mundo. Outra teoria explica que a estrela representa os grupos que formam a sociedade comunista: operários, trabalhadores do campo, intelectuais, jovens e exército.

Já o fundo vermelho usado em toda simbologia comunista é ligado à representação do ideal de revolução do comunismo.

Muitos países comunistas adotaram o uso destes símbolos em suas bandeiras oficiais, como China, Vietnã, Coreia do Norte e Angola.

O comunismo moderno

O comunismo moderno se exprime primeiramente como uma doutrina através do marxismo, depois no marxismo-leninismo e, em parte, também no maoismo marxista. É fundamentalmente uma doutrina destinada à igualdade da maioria.

De acordo com Karl Marx e Friedrich Engels, o comunismo do século XX considera a história como a sucessão de lutas entre a classe trabalhadora e a burguesia. Ambos são autores da obra Manifesto do Partido Comunista, de 1848.

Segundo os dois autores, a burguesia não trabalha e se o fazem é de forma insignificante, mas dispõem dos meios materiais de produção. Por sua parte, o proletariado não possui nada, apenas a sua prole (os filhos), daí seu nome, e sua força de trabalho.

Desta maneira, o proletariado é obrigado a vender sua força de trabalho para a burguesia a fim de garantir seu sustento.

Veja mais sobre o Marxismo.

Manifesto do Partido Comunista

O Manifesto Comunista foi publicado em 1848. Foi escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, considerados os fundadores do socialismo científico. No documento, são apresentados os principais ideais comunistas e são descritas e analisadas as formas de socialismo: reacionário, conservador e utópico.

O manifesto é uma crítica à forma como a sociedade foi organizada em função do capitalismo.

A obra contém críticas à burguesia enquanto classe social opressora, principalmente em relação à organização da sociedade no período pós-Revolução Industrial.

O manifesto também apresenta as diferenças existentes entre as classes burguesa e trabalhadora (proletariado) e a relação entre o proletariado e os partidos da época.

Um dos objetivos do manifesto é demonstrar que a classe trabalhadora é capaz de se unir para revolucionar e mudar a sua situação de classe oprimida pelos ideias capitalistas e pela sociedade burguesa.

No manifesto são defendidas ideias como:

  • fim da propriedade privada sobre a terra,
  • fim dos direitos relacionados à herança,
  • entrega dos meios de produção ao controle do Estado.

marxengels

Karl Marx e Friedrich Engels

Qual a visão histórica do marxismo?

Os autores comunistas afirmam que as condições de vida (principalmente as econômicas) do homem determinam sua consciência.

Assim, considera que o desenvolvimento da capacidade de produção, graças à técnica e à ciência, desencadeia uma evolução onde a sociedade escravagista daria lugar à sociedade feudal.

Depois disso, a sociedade feudal deveria dar lugar à sociedade burguesa e finalmente à sociedade socialista.

O comunismo e a luta de classes

Segundo esta doutrina, o último ponto da luta de classes é o proletariado contra a burguesia. Este conflito levaria ao fim da sociedade burguesa, ao desaparecimento das classes e à sua substituição por uma sociedade socialista e, em seguida, comunista.

Com o fim da separação da sociedade em classes sociais estaria estabelecida a sociedade comunista, de volta ao “estado natural” desejado pelos defensores da doutrina.

Esta luta aconteceria internacionalmente, visto que a burguesia também se organizou de modo internacional, os laços da classe seriam mais importantes do que as realidades nacionais. Dessa maneira, a classe operária de um país tem mais responsabilidade para com a classe operária de outro país do que para com os seus próprios nacionais.

Comunismo no Brasil

O Partido Comunista do Brasil, fundado no Rio de Janeiro em março de 1922, foi de grande importância para o país, pois dele surgiram vários partidos que potenciaram a política brasileira.

Desde a sua fundação até o ano de 1935, o Partido Comunista disputava com o anarquismo pela liderança sindical.

Durante muito tempo o Partido Comunista foi proibido de funcionar e por isso passou a existir de forma clandestina. Por esse motivo o Bloco Operário Camponês foi criado, com o objetivo de participar nas eleições.

Veja também: Anarquismo, Anarquia, características de uma pessoa anarquista e diferenças entre o anarquismo e comunismo.

O surgimento dos partidos comunistas

Em um certo momento o comunismo passou a ser reivindicado pelos partidos comunistas, que revelaram grande combatividade em revoluções na Alemanha, Áustria e Hungria em 1918.

Entre os anos de 1917 e 1921 foram fundados quase todos os partidos comunistas que vieram a ser importantes na história:

  • Partido Comunista Alemão (no final de 1918 e princípio de 1919),
  • Partido Comunista da França (1920),
  • Partido Comunista da Indonésia (1920),
  • Partido Comunista Italiano (1921)
  • Partido Comunista Chinês (1921).

Atualmente não existe no mundo comunista a mesma centralização que havia nos anos 1930 e 1940.

Países comunistas atualmente

Hoje em dia alguns países são classificados como nações comunistas. São exemplos a China, Cuba, Coreia do Norte e Vietnã.

Mas é importante ter consciência de que o comunismo adotado nestes países não é inteiramente o comunismo previsto pela teoria da doutrina. Na maioria destes países os ideais do comunismo foram adaptados às características do capitalismo contemporâneo.

Os traços mais marcantes da doutrina comunista nestes países são em relação às políticas econômicas e à capacidade produção.

Saiba mais sobre a foice e martelo e o Manifesto Comunista.

Comunismo primitivo

Em seu livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, Engels faz referência ao comunismo primitivo, a forma de vida que existia desde a Pré-História. Quando foram formadas as primeiras organizações humanas, as propriedades eram partilhadas por todos, assim como os meios de produção e de distribuição. As atividades para obtenção de comida eram feitas em comum.

Desta forma, esta espécie de comunismo primitivo foi essencial para o desenvolvimento da sociedade humana. Criou laços na comunidade e facilitou a sobrevivência, que era essencial graças às condições adversas existentes.

Além disso, o comunitarismo cristão da Igreja Primitiva (revelado na Bíblia no livro de Atos dos Apóstolos), é por vezes visto como uma forma de comunismo.

Isso porque ele apresentava alguns dos mesmos princípios, como o desinteresse pelos bens materiais e um amor generalizado pelo próximo.

Veja também: Comunista, Comunismo e Socialismo e tipos de ideologias e suas características.

Diferenças entre comunismo e socialismo

Muitas vezes as expressões comunismo e socialismo são usadas como sinônimos, o que não é correto. No entanto, os dois conceitos representam ideologias com algumas semelhanças, pois representam uma forma de protesto ou uma alternativa ao capitalismo.

Muitos autores a favor do comunismo descrevem o socialismo como uma etapa para se chegar ao comunismo, que organizaria a sociedade de forma diferente, eliminando as classes sociais e extinguindo o Estado opressor.

A forma de atuação do comunismo e do socialismo também é diferente. Enquanto o socialismo prevê uma mudança gradual da sociedade e um afastamento do capitalismo, o comunismo pretendia uma diferenciação mais brusca e muitas vezes usando o conflito armado como método de atuação.

Veja também: Socialismo, Socialismo marxista, 7 características do Socialismo, diferenças entre o Socialismo e o Capitalismo e Muro de Berlim.

Juliana Bezerra
Revisão por Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.
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