Frases com Figuras de Linguagem: exemplos para entender melhor cada figura

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Professor de Língua Portuguesa

Figuras de linguagem, retórica ou estilo são recursos do idioma que fazem com que a linguagem se torne mais expressiva. Usados na fala ou na escrita, deixam a mensagem mais criativa e significativa, seja pelo uso inesperado de palavras, pela construção diferente de frases ou pela repetição de sons específicos.

Metáfora

Metáfora é uma figura de linguagem que estabelece uma relação de identidade entre dois termos diferentes, sem o uso de conectivos comparativos (como "como", "tal qual", etc.). Essa figura transfere características de um termo para outro, criando uma fusão de significados.

Por exemplo, na frase "o amor é fogo", o amor está sendo identificado como fogo, sugerindo suas características de intensidade e poder destrutivo sem usar uma comparação direta.

Exemplos de metáfora:

“Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu.”

(Chico Buarque)

“Meu verso é sangue.
Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.”

(Manuel Bandeira)

“A esperança é a coisa com penas
Que empoleirada na alma,
Canta a melodia sem palavras,
E nunca para"

(Emily Dickson)

"O mundo inteiro é um palco
E todos os homens e mulheres não passam de meros atores."

(William Shakespeare)

"Meu pensamento é um rio subterrâneo.
Para que terras vai e donde vem?"

(Fernando Pessoa)

"O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me devora, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo."
(Jorge Luis Borges)

Saiba mais sobre a metáfora e veja mais exemplos explicados de metáfora.

Comparação (símile)

Também conhecida como símile, é uma figura de linguagem que compara dois termos diferentes usando conectivos comparativos, como "tal qual", "como", "parecido com", entre outros. A comparação deixa clara a semelhança entre os termos, mantendo-os distintos.

Exemplos de comparação (símile):

“O amor é como um grande laço
Um passo pra uma armadilha
Um lobo correndo em círculos
Pra alimentar a matilha.”

(Djavan)

“Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto..."

(Manuel Bandeira)

“Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar"

(Vinicius de Moraes)

Veja mais sobre comparação.

Ironia

A ironia é uma figura de pensamento que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa. A ironia, que pode ser considerada uma espécie de simulação, pode ser feita com a finalidade de zombar ou criticar. A ironia agressiva, que humilha ou rebaixa a outra pessoa, recebe o nome de sarcasmo.

Exemplos de ironia:

  • "Aquele ali é honestíssimo..."
  • "Eu realmente não sei nada. Nunca estudei na vida. Sou ignorante. O sabichão aqui é você."
  • "Muito bonito, hein?"
  • "É um aluno aplicadíssimo. Chega sempre no final da aula."
  • "Você está linda! Onde escondeu a vassoura que a transportou até aqui?"

Antítese

Antítese é a oposição de ideias, o contraste de termos opostos. Os pares de opostos geralmente pertencem à mesma classe de palavras.

Exemplos de antítese:

“Eu falo de amor à vida
Você, de medo da morte
Eu falo da força do acaso
E você, de azar ou sorte
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta
Te chamo pra festa
Mas você só quer atingir sua meta”

(Paulinho Moska)

"Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão."

(Caetano Veloso)

"O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo —
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo."

(Fernando Pessoa)

Hipérbole

A hipérbole é uma figura de linguagem caracterizada pelo uso de exagero intencional para enfatizar uma ideia ou transmitir uma emoção de forma mais impactante. Esse exagero não é destinado a ser entendido de forma literal, mas sim a intensificar a mensagem, criando um efeito dramático ou humorístico.

Por exemplo, na frase "estou morrendo de sede", a hipérbole é utilizada para expressar que a pessoa está com muita sede, mas não literalmente morrendo.

Exemplos de hipérbole:

  • "Chorei rios de lágrimas."
  • "Estou morto de cansaço."
  • "Já lhe disse mil vezes: eu não vou."
  • "Aristeu comeu um boi inteiro no churrasco."
  • "Já expliquei um milhão de vezes e você ainda não entendeu."

Veja mais sobre a hipérbole.

Personificação (prosopopeia)

A prosopopeia, também conhecida como personificação, é uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados, animais ou conceitos abstratos, como sentimentos, ações e pensamentos.

Por exemplo, na frase "O vento sussurrava segredos nas árvores", o vento é descrito como se pudesse sussurrar, uma ação humana.

Exemplos de personificação (prosopopeia):

"A água não para de chorar"
(Manuel Bandeira)

“Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
Ela nos espia do aparador.”

(Carlos Drummond de Andrade)

"A Lua, tal qual a dona de um bordel,
pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel"

(João Bosco, Aldir Blanc)

"As ondas lambem minhas pernas
O sol abraça o meu corpo..."

(Lulu Santos)

Saiba mais sobre personificação ou prosopopeia.

Sinestesia

A sinestesia consiste na mistura ou união de sensações que se originam em diferentes órgãos sensoriais. Em outras palavras: trata-se do cruzamento de sensações que, na linguagem convencional, jamais poderiam ser misturadas.

É um recurso muito usado na poesia. Descrever um som como claro e um ruído como seco são exemplos de sinestesia.

Exemplos de sinestesia:

"O céu se aproximou dela até que lhe comunicou o toque do azul, acariciando-a como um esposo, deixando-lhe o cheiro e a delícia da tarde"
(Gabriel Miró)

"Haverá um silêncio verde
Todo feito de guitarras desfeitas"

(Gerardo Diego)

"Alga marinha vá na maresia
Buscar ali um cheiro de azul"

(Djavan)

Metonímia

A metonímia é uma figura de linguagem que consiste na substituição de um termo por outro com o qual possui uma relação de proximidade ou associação lógica. Essa substituição pode ocorrer por diversos tipos de relação, como a parte pelo todo, o autor pela obra, o efeito pela causa, o continente pelo conteúdo, entre outras.

Exemplos de metonímia:

  • "Ganho meu sustento com muito suor." (neste caso, o efeito, “suor”, substitui a causa, “trabalho).

  • "Li Camões antes de dormir." (substituição da obra pelo autor).

  • "Tomei uma garrafa de café." (o continente pelo conteúdo)

  • "Floriano é um bom garfo." (o instrumento pela pessoa que o utiliza)

  • "Joana usa Bombril para arear as panelas." (a marca pelo produto)

  • "Ele é um grande talento de Hollywood." (bairro pela indústria)

Veja mais sobre Metonímia.

Antonomásia

Antonomásia é a substituição de um nome próprio por um epíteto ou caracterização facilmente reconhecível desse nome. Também ocorre antonomásia quando se dá o contrário: a substituição de um nome comum por um nome próprio.

Exemplos de antonomásia:

  • "O Poeta da Vila compôs alguns dos mais belos versos da nossa música." (“Poeta da Vila” está substituindo Noel Rosa).
  • "O Rei do Rock jamais morrerá!" ("Rei do Rock" refere-se a Elvis Presley).
  • "Lá vem o nosso Chico Buarque!" (Substitui-se o nome de alguém pelo nome próprio de um músico consagrado).
  • "Esse é um Don Juan." (Designa-se um indivíduo conquistador pelo nome do personagem que representa essa qualidade).

Perífrase

Perífrase é a substituição de uma palavra por um conjunto de palavras (expressão ou locução) que a descreve, transmitindo a mesma ideia. Uma característica essencial da perífrase é o uso de uma mensagem mais longa no lugar de um termo curto.

Exemplos de perífrase:

  • "O maior predador terrestre é o rei dos animais." (“Rei dos animais” substitui o substantivo “leão”).
  • "O ouro negro é abundante no Brasil." (“Ouro negro” substitui “petróleo”).
  • "O Imperador marcou o gol da seleção na final da Copa América." (o jogador Adriano)
  • "'Detalhes' é a minha música preferida do Rei." (Roberto Carlos)
  • "Tiradentes foi condenado à morte." (Joaquim José da Silva Xavier)
  • "A cidade das mangueiras é cheia de encantos." (Belém do Pará)

Catacrese

A catacrese é uma figura de linguagem que ocorre quando se utiliza um termo fora de seu contexto usual para designar algo que não tem um nome específico na língua. É uma espécie de metáfora desgastada pelo uso constante, onde a substituição de termos se tornou tão comum que passou a ser aceita como normal na linguagem cotidiana.

Exemplos de catacrese:

  • "Coroa do abacaxi."
  • "Batata da perna."
  • "Braço do sofá."
  • "A receita leva três dentes de alho."
  • "A sopa estava tão quente! Queimei o céu da boca."
  • "Cuidado! O pé da mesa está quebrado."
  • "Escrevo numa folha de papel."
  • "Explodiu a cauda do avião."
  • "Pescava naquele braço do rio."

Ambiguidade

Uma frase ambígua é uma frase com duplo sentido. Trata-se de um vício de linguagem quando usada de forma não intencional. Assim, há ambiguidade nesta frase: “Venceu o Corinthians o Palmeiras”. Afinal de contas, quem venceu?

Porém, em muitos casos a ambiguidade pode ser resolvida pela análise do contexto em que a frase foi empregada. No exemplo dado acima, a leitura da notícia ajuda-nos a entender qual foi o time que venceu o jogo.

No entanto, é possível usar a ambiguidade a nosso favor. Podemos ser mais expressivos e criativos através do duplo sentido. Os publicitários fazem isso muito bem.

Exemplos de ambiguidade:

“Você andou muito para encontrar seu verdadeiro amor. Não é hora de agradecer seus pés por isso?”
(Publicidade das Havaianas).

Nesse exemplo, o verbo “andar” tem duplo sentido: “andar” no sentido de “ir atrás”, “buscar” ou “caminhar”.

"Aurélio. Bom pra burro."
(Publicidade do dicionário Aurélio).

Note como a expressão "bom pra burro" se abre a uma dupla interpretação. O efeito é bastante interessante.

Saiba mais sobre ambiguidade.

Alusão

Alusão é uma referência a um texto, a uma pessoa ou a um acontecimento. Essa referência pode se dar de forma explícita ou implícita. É comum alusões no cinema: por exemplo, um filme que faz referência a alguma cena de um filme clássico. Na literatura, esse recurso também é bastante comum.

Exemplos de alusão:

  • "A paixão entre eles era tão forte quanto a dos amantes de Verona." (Para descrever a paixão entre dois amantes, faz-se referência ao clássico Romeu e Julieta, de W. Shakespeare).
  • "João vivia tão encantado com seus moinhos de vento que às vezes tínhamos a impressão de que vivia em outra realidade." (Alusão ao romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes).

Oximoro (Paradoxo)

O oximoro, também chamado de paradoxo, é uma figura de linguagem que consiste na união de ideias aparentemente contraditórias ou opostas, mas que, ao serem analisadas mais profundamente, revelam um sentido coerente ou uma verdade subjacente.

Exemplos de oximoro (paradoxo):

“Tenho bastante em ter nada”
(Fernando Pessoa)

"Um silêncio tão doente do vizinho reclamar"
(Chico Buarque)

“Que não vejo, mas vejo,
Que não ouço, mas ouço,
Que não sonho, mas sonho,
Que não sou eu, mas outro…”

(Fernando Pessoa)

"Eu tô te explicando pra te confundir,
Eu tô te confundindo pra te esclarecer."

(Tom Zé)

"Estou cego e vejo.
Arranco os olhos e vejo."

(Carlos Drummond de Andrade)

“Sei que a morte, que é tudo, não é nada”
(Fernando Pessoa)

Eufemismo

O eufemismo é uma figura de linguagem que consiste na substituição de uma expressão considerada rude, desagradável ou ofensiva por outra mais suave, polida ou aceitável.

Exemplos de eufemismo:

  • "Aquela criança é um pouco difícil." (a criança é muito levada).
  • "Você não teve um desempenho muito feliz." (O desempenho, na verdade, foi ruim ou péssimo).
  • "Ele foi convidado a se retirar da empresa." (foi demitido)
  • "O cachorrinho dela foi para o céu." (morreu)
  • "João foi punido pela mãe porque faltou com a verdade." (mentiu)
  • "Ela sofria de mal de Hansen." (leproso)

Saiba mais sobre eufemismo e conheça mais exemplos.

Disfemismo

É o oposto do eufemismo. Ou seja: no lugar de atenuar a mensagem, usando palavras mais brandas, usam-se termos ainda mais agressivos e rudes. O disfemismo acentua o caráter negativo da mensagem.

Exemplos de disfemismo:

  • "Essa criança é uma peste."
  • "Tire suas patas de cima de mim!"
  • "Ele foi expurgado da empresa em que trabalhava."
  • "É um ser desprezível."
  • "É um compositor medíocre, um poetastro."
  • "Juquinha era um demônio em forma de criança."

Gradação

A gradação é uma figura de linguagem que consiste na distribuição de elementos de forma crescente ou decrescente. Quando acontece de forma ascendente, a gradação dirige-se ao ápice (clímax). Quando é descendente, dirige-se ao anticlímax.

Exemplos de gradação ascendente:

"Ande, corra, voe, aonde a honra o chama"
(Nicolas Boileau)

"A cólera deu em nada; a humilhação debulhou-se em lágrimas legítimas. E contudo não faltaram a esta senhora ímpetos de estrangular Sofia, calcá-la aos pés, arrancar-lhe o coração aos pedaços, dizendo-lhe na cara os nomes crus que atribuía ao marido..."
(Machado de Assis)

Exemplos de gradação descendente:

“Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.”

(Gregório de Matos)

"Um sopro, uma sombra, um nada, tudo lhe dava febre"
(La Fontaine)

Apóstrofe

Apóstrofe é um chamamento a alguém, real ou imaginário, vivo ou morto, no meio de um discurso. Esse interlocutor chamado pode ser o próprio leitor. Em alguns casos, a entidade invocada é um deus, uma personalidade já falecida, um elemento da natureza ou a própria pátria.

Exemplos de apóstrofe:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!”

(Fernando Pessoa)

“Mas pois vós, Senhor, o que quereis e ordenais assim, fazei o que fordes servido.”
(Padre Antônio Vieira)

"Ó Deus! Onde estás que não respondes?"
(Castro Alves)

"Ó Pátria amada, idolatrada, salve! salve!"
(Joaquim Osório Duque Estrada)

Elipse

A elipse consiste na omissão de uma ou mais palavras já subentendidas dentro de uma frase. Assim, a elipse, apesar de tornar a frase mais concisa, não altera o seu sentido.

Exemplos de elipse:

  • “Ao vencedor, as batatas” (omissão do verbo "ficar)
  • "Cheguei. Chegaste." (omissão dos sujeitos).
  • Somos estudiosos (omissão de "nós")
  • Na terra, tanta guerra (omissão de "há")
  • "Abri a porta, apareci." (omissão de "eu")
  • "Vieste na hora exata, com ares de festa e luas de prata." (omissão de "tu")

Zeugma

Zeugma é uma figura de linguagem que ocorre quando uma palavra ou expressão mencionada anteriormente em uma frase é omitida em uma parte subsequente, sendo subentendida pelo contexto.

Exemplos de zeugma:

  • "Eu adoro comer frutas; ela, chocolate." (a vírgula indica a omissão das palavras “adora comer”).
  • "Ela fica muito entusiasmada quando vai ao parque e o irmão também." (no caso, o que se omite é “fica muito entusiasmado”).
  • "Ele estudava matemática e ela, física." (omissão de "estudava")
  • "Pedro era pedreiro e José, lavador de carros." (omissão de "era")
  • "Maria acordou, tomou café e foi para o trabalho." (omissão de "Maria")
  • "A onda que me carrega é a mesma que me traz." (omissão de "onda").
  • "Meu coração só pede teu amor. Se não me deres, posso até morrer." (omissão de "teu amor")

Silepse

A silepse, também chamada de concordância ideológica, consiste na relação de um elemento com algo que está implícito na frase.

Assim, quando dizemos “Gostei desse pessoal. Todos foram muito simpáticos comigo”, o verbo “foram” e o adjetivo “simpáticos” concordam não com “pessoal”, mas com as pessoas que compõem esse "pessoal". O sujeito no plural está subentendido.

A silepse funciona através de um desvio de concordância com valor estilístico. Existem três tipos de silepse: de número, pessoa e gênero.

Exemplos de silepse:

  • "Bom dia, turma. Sejam todos bem-vindos." (“turma” está no singular. “Sejam todos bem-vindos”, no plural).
  • Os seres humanos precisamos preservar o nosso planeta. (“os seres humanos” está na 3ª pessoa do plural. “Precisamos”, na 1ª pessoa do plural).
  • "Vossa Excelência é injusto." (“Vossa Excelência” é feminino; “injusto”, masculino).
  • "Vossa senhoria foi muito atencioso." (silepse de gênero)
  • "A turma corria e gritavam por socorro." (silepse de número)
  • "Os brasileiros somos simpáticos e solidários, gostamos de ajudar." (silepse de pessoa)
  • "O grupo, ao perceber que as reivindicações não seriam atendidas, optaram por manter a greve." (silepse de número)

Hipérbato (inversão)

O hipérbato é a mudança drástica da ordem direta dos termos dentro de uma frase. Para saber o que é o hipérbato, antes precisamos saber o que é a ordem direta ou natural de uma frase. Uma frase na ordem direta organiza-se desta forma: sujeito, predicado e complemento. O hipérbato seria justamente a desorganização dessa ordem direta.

Exemplos de hipérbato (inversão):

“São como cristais as palavras.”
(Eugênio de Andrade)

“Em tristes sombras morre a formosura.”
(Gregório de Matos)

"De dois grandes namorados, de duas grandes paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois..."
(Machado de Assis)

"De muito gorda a porca já não anda.
De muito usada a faca já não corta."

(Chico Buarque)

  • "Que o juízo final há de chegar, não duvido."
  • "Inocente ele pode dizer que é, mas eu não acredito."

Anástrofe

Anástrofe é uma figura de linguagem que consiste na inversão da ordem natural das palavras na frase, com o objetivo de destacar um elemento específico ou criar um efeito estilístico. Essa figura é semelhante ao hipérbato, porém geralmente se refere especificamente à inversão entre um substantivo e seu adjetivo, ou entre um verbo e seu complemento, dentro da estrutura da frase.

Exemplos de anástrofe:

“Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos têm mais flores”

(Joaquim Osório Duque-Estrada)

"De verdes mares bravios
Onde a onda com graça rola"

(Castro Alves)

"Incerteza do amor, da glória o engano"
(Camões)

“Rumor de vaga, onde se acaba nasce…
Mais do que fim a morte é nascimento…
De muitas mortes uma vida faz-se…
Sonho de tudo: rosto aberto ao vento!”

(José Fernades Fafe)

Polissíndeto

Polissíndeto é uma figura de linguagem que consiste na repetição de conjunções (como "e", "ou", "nem") dentro de uma mesma estrutura sintática, criando um efeito de acumulação e intensificação.

Exemplos de polissíndeto:

“Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!”

(Olavo Bilac)

“O quinhão que me coube é humilde, pior do que isto: nulo. Nem glória, nem amores, nem santidade, nem heroísmo”
(Otto Lara Resende)

"e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?"

(Carlos Drummond de Andrade)

"Nem a Guanabara. Nem o Corcovado. Nem o Pão de Açúcar. Nada disso é trabalho nosso."
(Viriato Correia)

Assíndeto

Assíndeto é uma figura de linguagem que consiste na ausência de conjunções coordenativas entre os termos de uma sequência sintática, criando um efeito de rapidez, fluidez ou simplicidade na frase.

Exemplos de assíndeto:

“Vim, vi, venci.”
(frase atribuída a Júlio César)

“Soltei a pena, Moisés dobrou o jornal, Pimentel roeu as unhas.”
(Graciliano Ramos)

  • "Entrei, pedi, veio, comi, paguei, fui embora."
  • "Entrou correndo, não falou com ninguém, pegou as coisas e saiu."
  • "Trabalha, estuda, sua, passa no concurso."

Anáfora

A anáfora consiste na repetição de uma mesma palavra ou conjunto de palavras no início de frases ou versos. Um exemplo clássico da ocorrência de anáfora na nossa música popular é a utilização reiterada do verbo “é” na canção “Águas de Março”, de Tom Jobim.

Exemplos de anáfora:

“É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o Sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matinta Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira”

(Tom Jobim)

“Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar”

(Raul Seixas & Paulo Coelho)

É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer".

(Luís de Camões)

"Quero inventar o meu próprio pecado.
Quero morrer do meu próprio veneno.
Quero perder de vez tua cabeça.
Minha cabeça perder teu juízo."

(Chico Buarque)

"Tudo, tudo parado;
Parado e morto."

(Mário Palmério)

Anacoluto

O anacoluto ocorre quando há uma quebra na estrutura sintática da frase, causada pela interrupção ou mudança abrupta na construção gramatical. Isso acontece quando há uma alteração na estrutura gramatical da frase, gerando um desvio em relação à norma padrão da língua.

Exemplos de anacoluto:

“O dia, esse bojo de linfa, uma vertigem de hélio – arcaicamente."
(Herberto Helder)

“O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu.”
(Rubem Braga)

  • "Tu, acho até que já podias ter ido."
  • "Eu, meu dinheirinho voa antes do final do mês."
  • "Este livro, Deus me ajudou muito."

Quiasmo

Quiasmo é uma figura de linguagem que consiste na disposição cruzada de termos em uma frase ou em versos, de modo que se estabelece um padrão simétrico. Essa estrutura se caracteriza pela inversão paralela de elementos, formando um esquema de cruzamento entre os termos.

Nestes dois versos do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, há a ocorrência de quiasmo:

“A benção como espada,
A espada como benção!”

(Fernando Pessoa)

Note como os dois versos são espelhados. O 1º termo do primeiro verso, “benção”, aparece na 2ª posição no 2º verso. Já o 2º termo do 1º verso, “espada”, aparece na primeira posição do 2º verso.

Exemplos de quiasmo:

  • "Ela ia feliz, feliz ela ia."
  • "Eu sou assim. Assim eu sou."
  • "Devemos amar para viver, e viver para amar."
  • "A alegria do pobre é a tristeza do rico, e a tristeza do pobre é a alegria do rico."
  • "Na vida é importante ganhar para aprender, e aprender para ganhar."

Pleonasmo

O pleonasmo é a utilização excessiva de palavras, gerando redundância no discurso. Ele é geralmente tratado como um vício de linguagem; ou seja: algo que deve ser evitado. No entanto, se bem usado, pode provocar um efeito interessante no texto.

Exemplos de pleonasmo:

“E rir meu riso e derramar meu pranto.”
(Vinícius de Moraes)

“Chovia uma triste chuva de resignação.”
(Manuel Bandeira)

"Eu nasci há dez mil anos atrás".
(Raul Seixas & Paulo Coelho)

  • "Quando encontrar a escada, é só subir pra cima."
  • "Vou dividir a melancia em duas metades iguais."
  • "Ela disse que a entrega foi adiada para depois."

Epanalepse

Figura de linguagem pouco conhecida, a epanalepse consiste no uso da mesma palavra no início e no final de uma frase ou verso.

Exemplos de epanalepse:

  • "Homem é lobo do homem."
  • "Sou o que sou."
  • Longe de ti, sempre longe."
  • "Tristeza, sinto tristeza."
  • "Tudo passa, tudo."

Anadiplose

A anadiplose é uma figura de linguagem que consiste na repetição da última palavra do verso ou da frase anterior no início do verso ou da frase seguinte. Trata-se de um recurso coesivo, na medida em que estabelece conexão entre as ideias.

Exemplos de anadiplose:

“Hoje é domingo
Pé de cachimbo
Cachimbo de ouro
Bate no touro
O touro é valente
Bate na gente
A gente é fraco
Cai no buraco
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo.”

(parlenda de domínio público)

“A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se ele eleva a grau supremo”

(Bocage)

  • "E vi a bruma baixa sobre o rio. O rio que tudo arrasta."
  • "Não existe amor sem dor, dor que nos transforma."
  • "A vida é um constante recomeço, recomeço que traz novas esperanças."

Diácope

Diácope tem origem numa palavra grega que significa “corte”. Caracteriza-se pelo uso da mesma palavra duas vezes, tendo uma palavra no meio delas.

Exemplo de diácope:

  • "Vida boa, vida tranquila."
  • "Alegres caras, alegres corações."
  • "Tempo, tempo, voa depressa."
  • "Vida, minha vida, não me deixe agora."
  • "Amor, amor, amor, me abrace mais forte"

Onomatopeia

A onomatopeia é a tentativa de imitação de um som do mundo real através das palavras. Um exemplo bastante claro disso é a palavra tique-taque, que imita o som produzido pelo relógio. Na linguagem das histórias em quadrinhos, o uso de onomatopeias é bastante comum: “zás!”, “pum!”, “pá!”, “zzzzzz...” etc.

Alguns verbos, como miar, zumbir, tilintar e ciciar têm origem onomatopaica.

Exemplos de onomatopeia:

"No tic tic tac do meu coração renascerá."
(Timbalada)

"Plunct Plact Zum! Não vai a lugar nenhum!"
(Raul Seixas)

"Splish splash fez o beijo que eu dei/ Nela dentro do cinema".
(Roberto Carlos)

  • Às quatro da manhã, o galo emitiu o seu tradicional co-co-ro-có.
  • Quando eu entrei no banho, soou o ding-dong vindo da porta.

Aliteração

Aliteração é a repetição expressiva de um som consonantal (ou seja, um som produzido por consoantes). Aliterações são responsáveis pela musicalidade de muitos textos poéticos.

Exemplos de aliteração:

“Eu temo muito o mar, o mar enorme”
(Cesário Verde)

“Pedro pedreiro penseiro
Esperando o trem.
Manhã, parece, carece
De esperar também.”

(Chico Buarque)

“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”

(Cruz e Sousa)

"Pelos palanques políticos prometem, prometem
Pura palhaçada
Proveito próprio
Praias programas, piscinas, palmas
Pra periferia
Pânico, pólvora, pá pá pá
Primeira página
Preço pago
Pescoço, peitos, pulmões perfurados"

(GoG)

"Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela.
Será que ela mexe o chocalho ou chocalho é que mexe com ela?

(Chico Buarque)

“Chove chuva, chove sem parar”
(Jorge Bem Jor)

Assonância

Assonância é a repetição expressiva de um som vocálico. Quando o som vocálico aparece na sílaba tônica das palavras, o resultado é mais expressivo.

Exemplos de assonância:

“Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro”

(Caetano Veloso)

"Minha Foz do Iguaçu, Polo Sul, meu azul
Luz do sentimento nu"

(Djavan)

"O leite, o sentimento, a bruta, esfera, o fim, o jeito, o medo, o beijo, o vero, o ero, o raro
O falo, o dado
O olho tosco, o rosto, sopro, gosto ruim
O dado, o olho tosco, o rosto, solto ruim"

(Otto)

"E no dia lindo vi que vinhas vindo, minha vida."
(Guilherme de Almeida)

"A água do mar estava clara, plácida, mágica!..."

Paronomásia

Consiste no emprego, numa mesma frase, de palavras que são iguais (ou quase iguais) no som, mas diferentes no significado.

Vejamos a seguinte frase: "Em vão os sonhos se vão". Note que nessa frase a palavra “vão” é usada com dois significados diferentes: no primeiro caso, compõe uma locução que significa “inutilmente”; no segundo caso, trata-se do verbo “vão”.

Exemplos de paronomásia:

“Sua Eminência está na iminência de partir para o estrangeiro.”
(Massaud Moisés)

"Aquela cativa
que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva."

(Camões)

“A Galvão acha fácil o imóvel que você acha difícil.”
(peça publicitária para uma imobiliária criada pelo poeta Paulo Leminski)

"Vistes as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens."

(Carlos Drummond de Andrade)

  • "Quem com ferro fere com ferro será ferido."
  • "Quem casa quer casa."

Cacofonia

Cacofonia vem da palavra grega kakophonía, que significa “som feio” ou “som desagradável”. Quando escrevemos ou falamos, sons de diferentes palavras se combinam, formando novos sons. Por exemplo, na frase “Tocou a boca dela”, as palavras “boca” e “dela”, juntas, formam uma nova palavra: “cadela”. Dependendo da situação, isso pode soar mal.

Embora seja considerado vício de linguagem, proveniente do descuido com a língua, é possível se valer da cacofonia para produzir novos sentidos dentro do texto. Quando usada de forma proposital, a cacofonia, ou cacófato, pode ser encarada como figura de linguagem.

Exemplos de cacofonia:

  • "Vi ela" (viela)
  • "Amo ela" (moela)
  • "A boca dela" (cadela)
  • "Uma mão lava outra" (mamão)
  • "Ela tinha" (latinha)
  • "Na vez passada..." (vespa)
  • "Ela te tinha contado..." (tetinha)

Figuras-de-linguagem

Veja também:

Igor Alves
Revisão por Igor Alves
Educador desde 2009, professor de Língua Portuguesa licenciado pela Universidade Federal do Pará. Criador de conteúdos online desde 2021.
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